sábado, 23 de janeiro de 2010

Henry Martyn

"Em novembro de 1805(...)um navio de bandeira inglesa que estava de viagem para a Índia pela mesma rota de Pedro Álvares Cabral aportou em Salvador por quinze dias. Um dos passageiros, de 24 anos, formado em matemática em Cambridge e ordenado ministro anglicano três anos antes, desceu do navio e foi conhecer a terra ensolarada que estava à sua frente. Chamava-se Henry Martyn e, à semelhança dos franciscanos que vieram com Cabral, ia para a Índia na qualidade de missionário.
Em terra, o jovem se encontrou com pessoas importantes e alguns sacerdotes católicos, com os quais conversou em francês e latim. Certo dia, foi parar na casa de um senhor de escravos muito educado, cujo filho, Antonio José, havia estudado numa universidade portuguesa. Por terem ambos formação superior, Martyn na Inglaterra, e Antônio em Portugal, os dois tinham muita coisa em comum e fizeram vários passeios juntos. A essa altura, Salvador, a antiga capital do Brasil, tinha 45 mil habitantes e muitas igrejas já haviam sido construídas.(...)Desde que havia deixado a Inglaterra, quatro meses antes (17 de julho de 1805), Henry Martyn anotava num diário todas as suas impressões de viagem. No dia 12 de novembro, ele escreveu algo que pode ser interpretado como um dos mais bem escritos e substanciosos desafios missionários: “Que feliz missionário será enviado para proclamar o nome de Jesus a estas regiões ocidentais? Quando será que esta linda terra se libertará da idolatria e do cristianismo espúrio? Cruzes existem em abundância, mas quando a doutrina da cruz será pregada?”.(...)
Depois de levantar âncoras da Baía de Todos os Santos, o navio em que Martyn estava gastou mais seis meses para chegar a Calcutá, ao nordeste da Índia (21 de abril de 1806). Se havia idolatria na Bahia, na Índia, a terra de milhares de deuses, a coisa era incomparavelmente pior. Ao ver homens e mulheres se prostrarem diante de uma imagem escabrosa, o expansivo Martyn anotou no celebre diário: “Eu tremi, como se estivesse de pé nas redondezas do inferno”. Além de ministrar para soldados e residentes ingleses em Calcutá, Dinapore e Cawmpore, por quatro anos e meio, Martyn pregava fluentemente no dialeto hindustani para os nativos. Sua pregação era tão atraente que ele costumava ter 800 pessoas em seus auditórios. Por causa de sua extraordinária capacidade linguística, em menos de um ano o jovem capelão traduziu para o hindustani (fevereiro de 1807) parte do “Livro de Oração Comum”, dos anglicanos, e o “Comentário sobre as Parábolas”. No ano seguinte, completou a versão do Novo Testamento (março de 1808). Pouco depois, apesar de doente, Martyn fez uma revisão da versão persa do Novo Testamento (fevereiro de 1812). Seu último trabalho foi a tradução dos Salmos para o persa. O agravamento de seu estado de saúde impediu que Martyn entregasse pessoalmente ao rei da Pérsia (hoje Irã) um exemplar do Novo Testamento em sua língua, o que foi feito por Sir Gore Onseley, o ministro britânico. Embora não desejasse voltar à pátria por causa de seu trabalho, Martyn foi obrigado a mudar de ideia para tentar se curar de uma tuberculose. Porém, não conseguiu chegar até a Inglaterra. Depois de viajar cerca de 2.400 quilômetros a cavalo, da Pérsia à Turquia, o rapaz de 31 anos morreu em Tocat, na Turquia Asiática, no meio de desconhecidos (16 de outubro de 1812). Em 1823, onze anos depois, um inglês residente em Bagdá erigiu um monumento sobre o túmulo de Martyn com os seguintes dizeres: “Ao rev. Henry Martyn, um pastor e missionário inglês, servo piedoso, versado e fiel, que, voltando à sua terra natal, o Senhor o chamou para sua alegria eterna”.
Porque a moça com a qual desejava casar (Lydia Grenfield) era uma inglesinha indecisa que não lhe dizia sim nem não, Henry Martyn viveu e morreu solteiro."

Fonte adaptada: Ultimato Janeiro/Fevereiro 2010

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