segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Azeitonas que não foram espremidas




Watchman Nee

Azeitonas que não conheceram a pressão,
nunca podem azeite conceder;
Se as uvas escaparem do lagar,
o vinho da alegria nunca pode fluir;
Só sendo triturado é que o nardo
pode difundir sua fragrância.
Recuarei então do sofrimento,
ao qual Teu amor induz?
Cada golpe que sofro, é verdadeiro
ganho para mim;
No lugar daquilo que tiras,
Tu te das a Ti mesmo a mim.

As cordas do meu coração
precisam ser esticadas por Ti,
Para provar a música Divina?
A música mais doce deve vir,
do duro tratamento do Teu amor?
Senhor, não temo qualquer privação,
se eu for atraído a Ti;
Quero me entregar em plena rendição,
pra ver todo o Teu coração de amor.

Estou envergonhado, Senhor,
por buscar, guardar sempre a mim mesmo;
Embora Teu amor tenha feito seu despojamento,
Ainda me senti constrangido por Teu caminho.
Senhor, conforme o Teu prazer,
Completa Tua obra em mim;
Desconsiderando meus sentimentos humanos,
Faça apenas o que Te agrada.

Se Tua mente e a minha foram diferentes,
Segue Teu caminho, Senhor;
Se Teu prazer significa minha tristeza,
ainda assim meu coração dirá: Sim!
É meu profundo desejo Te agradar,
Embora eu possa sofrer perdas;
Mesmo que Teu prazer e glória,
signifiquem que eu suporte a Cruz.

Oh, Te louvarei mesmo chorando,
Mistura-Te com meu cântico;
Tua crescente doçura provoca,
louvores de gratidão o dia todo.
Tu fizeste a Ti mesmo mais precioso,
Do que tudo para mim;
Cresça, Tu Senhor, e eu diminua
Esta é agora minha única súplica.


sábado, 27 de dezembro de 2008

Louvor e Invocação



Agostinho de Hipona

És grande, Senhor e infinitamente digno de ser louvado; grande é teu poder, e incomensurável tua sabedoria. E o homem, pequena parte de tua criação quer louvar-te, e precisamente o homem que, revestido de sua mortalidade, traz em si o testemunho do pecado e a prova de que resistes aos soberbos. Todavia, o homem, partícula de tua criação, deseja louvar-te.
Tu mesmo que incitas ao deleite no teu louvor, porque nos fizeste para ti, e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso.

Concede, Senhor, que eu bem saiba se é mais importante invocar-te e louvar-te, ou se devo antes conhecer-te, para depois te invocar. Mas alguém te invocará antes de te conhecer?
Porque, te ignorando, facilmente estará em perigo de invocar outrem. Porque, porventura, deves antes ser invocado para depois ser conhecido? Mas como invocarão aquele em que não crêem?

Ou como haverão de crer que alguém lhos pregue?

Com certeza, louvarão ao Senhor os que o buscam, porque os que o buscam o encontram e os que o encontram hão de louvá-lo.
Que eu, Senhor, te procure invocando-te, e te invoque crendo em ti, pois me pregaram teu nome. Invoca-te, Senhor, a fé que tu me deste, a fé que me inspiraste pela humanidade de teu Filho e o ministério de teu pregador.

(Confissões, Agostinho de Hipona, capítulo I)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Natal: Nosso Salvador nasceu!



1° Sermão de natal- Leão Magno, Papa
(440-464 A.D.)

Nosso Salvador, amados filhos, nasceu hoje; alegremo-nos. Não pode haver tristeza quando nasce a vida: dissipando o temor da morte, enche-nos de alegria com a promessa da eternidade. Ninguém está excluído da participação nessa felicidade; a causa da alegria é comum a todos porque nosso Senhor, aquele que destrói o pecado e a morte, não tendo encontrado nenhum homem isento de culpa, veio libertar a todos. Exulte o justo, porque se aproxima da vitória. Rejubile o pecador, porque é convidado ao perdão. Reanime-se o gentio, porque é chamado à vida.

Ao chegar a plenitude dos tempos, fixada pelos insondáveis desígnios divinos, o Filho de Deus assumiu a natureza do homem para reconciliá-lo com o seu Criador, de modo que o demônio, autor da morte, fosse vencido pela mesma natureza que ele antes vencera. Esse combate travado por nossa causa realizou-se com grande e admirável equidade: o Senhor todo poderoso lutou contra o inimigo cruel, não em sua majestade, mas em nossa humilde condição, opondo-lhe a mesma forma e a mesma natureza que a nossa, igualmente mortal, porém imune de todo pecado. Não se aplica por certo a esse nascimento o que se lê a respeito de todos os outros: Ninguém está isento de mácula, nem mesmo a criança que só tem um dia de vida na terra. 'Esse nascimento único nada deveu à concupiscência da carne, nada da condição do pecado se comunicou a ele. É escolhida uma virgem da estirpe real de Davi para trazer em seu seio essa santa descendência, a criança divina e humana que ela concebe em seu espírito antes de conceber em seu corpo. E para impedir que, ignorando o desígnio celeste, ficasse perturbada com efeitos tão insólitos, sabe por um anjo o que o Espírito Santo iria nela operar; e não teme por sua pureza aquela que seria em breve mãe do Filho de Deus. Por que, na verdade, recear essa extraordinária concepção, se recebeu a promessa de que ela se faria pelo poder do Altíssimo? Aliás sua fé é confirmada pelo testemunho de um milagre anterior: Isabel é agraciada com uma inesperada fecundidade; não se poderia desse modo duvidar de que daria à virgem o privilégio de conceber, aquele que já o dera à estéril.

Assim o Verbo de Deus, Filho de Deus e ele próprio Deus, que no princípio estava com Deus, por quem tudo foi feito e sem o qual nada foi feito, tornou-se homem para libertar da morte eterna o homem. Abaixou-se até revestir a nossa humilde condição, sem prejuízo de sua majestade; permanecendo o que era e assumindo o que não era, uniu verdadeiramente a forma de servo àquela forma em que é igual ao Pai e ligou tão estreitamente as duas naturezas que a glorificação não consumiu a inferior, nem a condescendência diminuiu a superior. Permanecendo, pois incólumes as propriedades de cada natureza na unidade de uma só pessoa, a humildade é assumida pela majestade, a fraqueza pela força, a condição mortal pela eternidade; e para solver a dívida de nossa condição humana, a natureza inviolável une-se a uma natureza passível e o Deus verdadeiro e o homem verdadeiro se associam na unidade do Senhor. Desse modo, como era necessário para nosso remédio, o único e mesmo mediador entre Deus e os homens poderia, de uma parte, morrer e da outra, ressuscitar.

Esse nascimento, amados filhos, convinha a Cristo, poder e sabedoria de Deus; por meio dele uniu-se a nós pela humanidade, continuando a nos ser superior pela divindade. Se ele não fosse verdadeiro Deus, não nos teria trazido socorro; se não fosse verdadeiro homem, não nos teria dado seu exemplo. Eis por que, ao nascimento do Senhor, os anjos, exultantes de alegria, cantam: Glória a Deus nas alturas e anunciam: Paz na terra aos homens de boa vontade. Eles vêem a Jerusalém celeste ser formada de todas as nações do mundo; por essa obra inexprimível do amor divino, como não devem se alegrar os homens, em sua pequenez, quando os anjos, com sua grandeza, assim se rejubilam?

Amados filhos: demos graças a Deus Pai, por seu Filho, no Espírito Santo; pois, na imensa misericórdia com que nos amou, compadeceu-se de nós; e como estávamos mortos por nossos pecados, fez-nos reviver com o Cristo para que fôssemos nele uma nova criação, nova obra de suas mãos. Despojemo-nos portanto do velho homem com seus atos; e tendo sido admitidos a participar do nascimento de Cristo, renunciemos às obras da carne. Toma consciência, ó cristão, de tua dignidade, e já que participaste da natureza divina não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição. Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro. Recorda-te de que foste arrebatado do poder das trevas e levado para a luz e o reino de Deus. Pelo sacramento do batismo te tornaste o templo do Espírito Santo. Não expulses com má ação tão grande hóspede, não recaias sob o jugo do demônio, porque o preço de tua salvação é o sangue de Cristo. Julgar-te-á segundo sua verdade aquele que te redimiu em sua misericórdia e reina, com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Incentivo aos conquistadores de almas

C. H. Spurgeon

Em Tiago 5:19-20 lemos: "Irmãos, se alguns de entre vós se tem desviado da verdade, e se converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados".
Tiago é eminentimente prático. Se de fato se trata do Tiago chamado "o Justo", posso compreender como recebeu o título, pois esse traço distintivo do seu caráter patenteia-se na epístola. Se o escritor é "o irmão do Senhor", fez bem em demonstrar tão forte semelhança com seu grande Parente e Senhor, que começou o Seu ministério com o prático sermão do monte. Devemos ser agradecidos ao fato de termos, nas Sagradas Escrituras, alimento para todo tipo de crentes, e emprego para todos os talentos dos salvos. Convinha que os contemplativos fossem supridos de abundantes temas para o exercício do pensamento. Paulo os forneceu. Deu-nos sã doutrina, disposta na simetria característica da ordem exata. Deu-nos pensamentos elevados e ensinamentos profundos. Pôs a descoberto verdades grandiosas pertencentes a Deus. Ninguém que seja propenso à reflexão e à meditação ficará sem nutrição enquanto existirem as epístolas paulinas, pois ele alimenta a alma com maná sagrado.
Para aqueles cujos afetos e imaginação predominantes os inclinam a temas de natureza mais mística. João escreveu frases de ardente devoção e inflamadas de amor. Temos as suas epístolas singelas, mas sublimes - epístolas que, à primeira vista, parecem escritas para crianças. Entretanto, bem examinadas, vê-se que o seu sentido é tão sublime, que mesmo os homens mais desenvolvidos são incapazes de captá-lo plenamente. Desse mesmo apóstolo de olhos e vôo de águia temos as portentosas visões do livro de Apocalipse, onde o assombro, a devoção e a imaginação podem estender e encontrar amplitude para circunvoluções mais completas.
Contudo, sempre haverá uma classe de pessoas mais práticas do que contemplativas, e foi demonstração de sabedoria que houvesse um Tiago, cujo principal objetivo seria desperta-lhes a mente limpa por meio de exortações, e ajudá-las a perseverar nos dons práticos do Espírito Santo. O texto de que estamos tratando é talvez a declaração mais prática da epístola (Tiago 5: 19-20). A epístola inteira arde em chamas, mas esta passagem sobe ao céu em labaredas. É o pon to culminante da carta, bem como sua conclusão. Não se pode dispensar uma palavra destes dois versículos. São como uma espada nua, desprovida de sua bainha ornada de jóias, e apresentada de modo que só se lhe pode notar o gume afiado. Eu gostaria de poder pregar segundo o padrão do texto. Se não puder, pelo menos orarei no sentido de que vocês sejam habilitados por Deus a agir segundo esse padrão. O que lamentavelmente falta em muitos lugares é o viver inteiramente dedicado ao Senhor Jesus. Temos suficientes ornamentos cristãos, mas o de que precisamos é trabalho sólido, diário e concreto a serviço de Deus. Bom será que as nossas vidas, por mais despojadas que sejam dos louros de conquistas literárias ou outras finas realizações, produzam frutos para Deus em forma de almas convertidas por meio dos nossos esforços. Assim, poderão apresentar-se diante de Deus com a beleza da oliveira, beleza que consiste em sua produtividade.

C. H. Spurgeon. O Conquistador de almas. págs, 219 e 220.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Procurar viver o evangelho

C. H. Spurgeon

Alguns de vocês, se não podem falar ou escrever muito, podem ao menos viver o evangelho. Esse é um belo modo de pregar - pregar com os nossos pés. Quer dizer, pregar com a nossa vida, com a nossa conduta, com a nossa conversação. A esposa amorosa, que chora em segredo pelo marido infiel, mas o trata sempre com amabilidade; o filho extremoso, cujo coração está quebrantado pela blasfêmia do pai, mas é muito mais obediente do que costumava ser antes de sua conversão; o criado a quem o patrão amaldiçoa, mas a quem pode confiar a carteira com dinheiro, sem saber que quantia há nela; o homem de negócios, escarnecido por pertencer a outra denominação, mas que é direito como uma linha reta, e que não se deixaria arrastar para nenhuma ação indigna por tesouro nenhum - são estes os homens e mulheres que pregam os melhores sermões. Estes são os pregadores práticos com que vocês podem contar.

Dêem-nos o vosso viver santo, e com ele como alavancas mudaremos o mundo. Com a bênção de Deus, acharemos línguas para anunciar a mensagem, mas a nossa grande necessidade é a das vidas dos cristãos de nossas igrejas como ilustração viva daquilo que nossos lábios digam. O evangelho se parece um tanto com um jornal ilustrado. As palavras do pregador são a letra impressa, e os clichês ilustrativos são os homens e mulheres que formam as nossas igrejas. Quando o povo pega um jornal desses, muitas vezes não lê o impresso, mas sempre olha as figuras; o mesmo acontece na igreja, os de fora talvez não venham ouvir o pregador, mas sempre ponderam, observam e criticam as vidas dos membros da igreja. Portanto, caros irmãos e irmãs, se querem ser conquistadores de almas, procurem viver intensamente o evangelho. " Não tenho maior gozo do que este: o de ouvir que os meus filhos andam na verdade".

O Conquistador de Almas,PES, C. H. Spurgeon, pág. 180.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Não só testemunhas e advogados, mas também exemplos.



C. H. Spurgeon

Na igreja cristã precisamos fazer maior uso da arte do chamariz; quer dizer, o exemplo, indo nós mesmos a Cristo, vivendo nós mesmos piedosamente em meio a uma geração perversa; nosso exemplo de alegria e tristeza, nosso exemplo de santa submissão à vontade de Deus na adversidade, e em toda forma de procedimentos benévolos, será o meio de induzir outros a entrarem no caminho da vida.
Naturalmente ninguém vai pôr-se a falar na rua sobre o seu exemplo pessoal.; mas não há pregador ao ar livre que não seja mais conhecido do que ele pensa. No seio da multidão pode haver alguém que conhece a tua vida particular. Uma vez ouvi falar de um pregador de praça pública a quem um ouvinte gritou: "Ah, João você não teria coragem de pregar dessa forma em frente da tua casa!" O que acontecera pouco antes, infelizmente, foi que o senhor João havia desafiado seu vizinho para uma briga e, portanto, não é provável que ele pregasse perto de sua casa. Isso fez daquela interrupção um verdadeiro desastre. Se a vida de alguém no lar for indigna, essa pessoa deverá viajar muitos quilômetros antes de levantar-se para pregar e, ao levantar-se, não deverá dizer nada. Os outros não conhecem, irmãos, sabem muito mais de nós do que podemos imaginar - e o que não sabem, inventam. O nosso comportamento e as nossas palavras devem constituir a parte mais poderosa do nosso ministério. Isso é o que se chama ser coerente, quando os lábios e a vida estão de acordo.
Abrevia-se o meu tempo, mas devo dizer uma palavra sobre outro ponto mais. Eu disse que a ação do Espírito Santo depende em grande parte do servo de Deus, mas devo acrescentar que também dependerá muito da classe de pessoas que rodeiam o pregador. O pregador que tenha que ir para o trabalho ao ar livre inteiramente só, estará em situação deveras infeliz. É estremamente proveitoso estar ligado a uma igreja zelosa e dinâmica que estará orando por você. Alguns pregadores são tão independentes que podem realizar seu trabalho sem auxiliares, mas serão sábios se não procurarem causar boa impressão com isso.

O Conquistador de Almas, PES, págs. 126 e 127.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

C. H. Spurgeon - O Conquistador de Almas



Neste livro " O Conquistador de Almas" de 1986 da editora PES, Spurgeon (19 de junho de1834 — 31 de janeiro de 1892) expõe de forma clara e explícita a natureza e os aspectos principais da obra de ganhar almas para Cristo. O livro na verdade é uma junção dos dircursos dirigidos a estudantes do Seminário Teológico e de outras palestras para outros ouvintes , sobre o mesmo tema, que ele denominava "o ofício de maior realeza" - conquistar almas. Separarei alguns trechos do livro...

" Arrepender-se é deixar
pecados antes amados,
e mostrar grande pesar
não os praticando mais."

Em todos os homens, a verdadeira conversão vem aconpanhada do senso do pecado, de que falamos sob o título de convicção; da tristeza pelo pecado, ou seja, do santo pesar por tê-lo cometido; do ódio ao pecado,que prova que o seu dominio terminou; e da fuga prática do pecado, que mostra que a vida no interior da alma influi na vida exterior. Fé verdadeira e arrependimento verdadeiro são gêmeos; seria ocioso tentar dizer qual nasce primeiro. Quando uma roda se move, todos os seus raios se movem juntos; assim, todas as graças começam a agir quando o Espírito Santo opera a regeneração. Contudo, o arrependimento é absolutamente necessário. Nenhum pecador olha para o Salvador com os olhos enxutos e com o coração empedermido. Portanto, procurem quebrantar os corações, levar as consciências a se convencerem da culpa, e afastar as mentes do pecado, e não se dêem por satisfeitos enquanto toda a mente não estiver profunda e vitalmente transformada com relação ao pecado.
Outra prova de que se conseguiu a conquista de uma alma para Cristo se vê na verdadeira mudança de vida. Se o homem não vive diferentemente de como vivia antes, em casa e fora, terá de se arrepender do seu arrependimento, e sua conversão é falsa. E não só o modo de agir e o linguajar deve mudar, mas também o espírito e o temperamento. "Mas", dirá alguém, " a graça muitas vezes é enxertada em rude planta silvestre." Sei disso. Mas, qual é o fruto do enxerto? Será semelhante ao enxerto, e não da natureza do tronco original.

C. H Spurgeon. O Conquistador de Almas, editora PES ( publicações evangélicas selecionadas), 1986, 2ª ed. págs. 23 e 24.

Completa submissão a Deus

C. H. Spurgeon

Uma das principais qualidades do pincel de um grande artista é sua rendição ao dono, para que faça dele o que bem quiser. Um harpista preferirá tocar com sua harpa particular porque conhece o instrumento, e quase se pode dizer que o instrumento o conhece. Assim, quando Deus põe a Sua mão sobre as próprias cordas do vosso ser, e todas as vossas faculdades interiores parecem responder aos movimentos da mão divina, vocês se tornam instrumentos que Ele pode utilizar. Não é fácil manter-nos nesta condição, bastante sensíveis para recebermos toda a impressão que o Espírito Santo queira transmitir-nos e para sermos de pronto influenciados por Ele.

O Conquistador de Almas, editora PES, pág. 48.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A minha graça te basta


C. H. Spurgeon

“A minha graça te basta” (II Coríntios 12:9)

Se nenhum dos santos de Deus fosse humilhado e sujeito às provações, não conheceríamos tão bem nem metade das consolações da graça divina. Quando encontramos um andarilho que não tem onde reclinar a cabeça, mas que pode dizer: "mesmo assim confiarei", ou quando vemos um pobre necessitado de pão e água que ainda se gloria em Jesus; quando vemos uma viúva enlutada assolada por aflições e ainda tendo fé em Cristo, oh! que honra isto reflete no evangelho. A graça de Deus é exemplificada e engrandecida na pobreza e nas provações dos crentes. Os santos resistem a todo desalento, crendo que todas as coisas cooperam para o seu bem, e que, entre todas as coisas aparentemente ruins afinal florescerá uma verdadeira bênção - que, ou seu Deus operará um rápido livramento, ou, com toda certeza, os sustentará na provação, enquanto assim Lhe aprouver. Esta paciência dos santos prova o poder da graça divina. Há um farol em alto mar: a noite está calma - não posso dizer se sua estrutura é sólida ou não; a tempestade precisa desabar sobre ele, e só assim saberei se continuará em pé. Assim é com a obra do Espírito Santo: se ela não fosse cercada por águas tempestuosas em muitas ocasiões, não saberíamos que é forte e verdadeira; se os ventos não soprassem sobre ela, não saberíamos o quanto é firme e segura. As obras-primas de Deus são aqueles homens que permanecem firmes, inabaláveis, em meio às dificuldades:

"Calmo em meio ao choro transtornado
Confiante na vitória."


Aquele quer quer glorificar seu Deus deve ter em conta o enfrentar muitas provações. Nenhum homem pode ser reconhecido diante do Senhor a menos que suas lutas sejam muitas. Se, então, o teu for um caminho atribulado, regozija-te nele, pois mostrarás o teu melhor diante da toda-suficiente graça de Deus. Quanto a Ele falhar contigo, jamais penses nisto - odeia este pensamento. O Deus que foi suficiente até agora, o será até o fim.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Dietrich Bonhoeffer




A Bênção da Oração Matinal

Nosso dia recebe sua ordem e disciplina a partir da integridade do dia assim conquistada. Ela vai sendo buscada e achada na oração matutina. Vai sendo vivenciada no trabalho. A oração na manhã decide sobre o resto do dia. A vergonha quanto ao tempo desperdiçado, a fraqueza e o desânimo no trabalho, bem como a confusão e a indisciplina em nossos pensamentos e nos relacionamentos com outras pessoas freqüentemente têm sua origem no desleixo da oração matinal. A ordenação e o uso disciplinado do nosso tempo firmam-se quando procedem da oração. As tentações que brotam dos afazeres diários são vencidas pela busca de Deus. As decisões concernentes ao nosso trabalho tornam-se mais fáceis e mais leves quando são tomadas diante da face de Deus e não no temor de homens. “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor, e não para homens” (Colossenses 3.23). Até as tarefas rotineiras são executadas com mais paciência quando feitas a partir do conhecimento de Deus e do seu mandamento. A força para trabalhar cresce, quando pedimos a Deus que nos dê hoje a força que necessitamos para o nosso trabalho.

Fonte: Extraído de Orando com os Salmos. Encontrão Editora, 1995. p. 75

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A pessoa cristã

Cristã é aquela pessoa que já não busca a sua salvação, a sua redenção e a sua justificação em si mesma, mas exclusivamente em Jesus Cristo. Ela sabe que a Palavra de Deus em Jesus Cristo a condena, mesmo que ela não tenha consciência da própria culpa, e que a Palavra de Deus em Jesus Cristo a absolve e a declare justa, mesmo que ela não tenha consciência de sua própria justiça. A pessoa cristã não vive mais de si mesma, nem da auto-acusação nem da autojustificação, mas da acusação e da justificação de Deus. Vive inteiramente a partir da sentença que Deus pronuncia sobre ela, sujeita-se a ela na fé, quer a condene, quer a absolva. Vida e morte do cristão não se encontram nele mesmo; ele encontra ambas exclusivamente na Palavra que vem a ele de fora, na Palavra de Deus para ele. Os reformadores expressaram-no assim: nossa justiça é uma “justiça alheia”, uma justiça de fora (extra nos). Com isso eles queriam dizer que o cristão depende da Palavra que vem a seu encontro. O cristão vive totalmente da verdade da Palavra de Deus em Jesus Cristo. Perguntando-lhe sobre onde está sua salvação, sua felicidade, sua justiça, ele jamais poderá apontar para si mesmo, mas para a Palavra de Deus em Jesus Cristo que lhe assegura salvação, felicidade e justiça. O cristão anseia ardentemente por esta Palavra. Porque não passa um dia em que não sinta fome e sede de justiça, anseia sempre pela palavra libertadora. Só de fora ela pode vir. Ele mesmo é pobre, está morto. A ajuda deve vir de fora, e ela veio e torna a vir diariamente na Palavra a respeito de Jesus Cristo, trazendo salvação, justiça, inocência e felicidade.

Fonte: "Vida em Comunhão", Dietrich Bonhoeffer - Editora Sinodal, pg 13.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A pós-modernidade e a singularidade de Cristo

Vivemos o risco de um novo modelo de intolerância. Afirmar a centralidade da obra de Cristo já pode ser visto como preconceito.Uma das contradições da cultura pós-moderna e globalizada é sua capacidade de romper fronteiras e preconceitos, tornando-a mais inclusiva e, ao mesmo tempo, criar outras fronteiras e preconceitos, tornando-a extremamente exclusiva e violenta. Nas últimas décadas, a civilização ocidental tem feito um enorme esforço para diminuir as distâncias entre as raças, romper com os preconceitos e a discriminação sociais e criar uma sociedade menos violenta e mais aberta à inclusão das minorias. Por outro lado, vemos uma enorme massa de excluídos que cresce a cada dia, transformando-se em alvos e agentes de violência e preconceitos jamais vistos.Dentro do cenário religioso observamos um movimento semelhante. Se por um lado a diversidade é uma característica do mundo globalizado, ampliando os horizontes e quebrando barreiras sociais e culturais, por outro, vivemos o risco de um novo modelo de intolerância. A própria abertura criada pela sociedade impede que expressemos nossos valores ou crenças, mesmo que o façamos sem agredir ou violar o direito daqueles que não concordam com eles. Tudo em nome de uma tolerância que cria a ditadura de um pensamento monolítico.A relativização dos valores morais, o rompimento das tradições e o colapso do modelo tradicional da família abriram espaço para a aceitação e inclusão dos novos modelos morais e sociais. Muitos desses modelos contrariam os princípios cristãos mais fundamentais e comprometem a saúde da sociedade; contudo, temos presenciado a reação de vários grupos que não admitem a contradição. Vivemos hoje o que o doutor James Houston chama de uma nova forma de fundamentalismo, o da “democracia liberal”, que impõe sobre nós a obrigação de aceitar e admirar tudo aquilo que contraria princípios e valores que fazem parte da consciência cristã.Muitos cristãos sentem-se intimidados por não poderem expressar suas convicções religiosas ou morais diante do novo fundamentalismo. Nossa cultura tornou-se moralmente e religiosamente liberal e requer que todos sejamos igualmente liberais. Isso significa que, num futuro não muito distante, sejamos impedidos de falar da revelação bíblica do pecado ou mesmo de sustentar publicamente nossas convicções morais, sob o risco de sermos considerados preconceituosos.Outro aspecto preocupante dentro do cenário globalizado é o futuro da centralidade da morte e ressurreição de Cristo para a vida e a espiritualidade cristãs. Imagino que, mais cedo do que pensamos, enfrentaremos uma forte resistência à afirmação bíblica de que Jesus é “o caminho”, “a verdade”, “a vida”, de que ele é “o único Senhor”, de que “não há salvação fora dele” e de que ele é o “único que pode perdoar nossos pecados”. Todas essas afirmações são, por si, uma agressão ao espírito “democrático” da sociedade pós-moderna. Afirmar a exclusividade de Cristo implica na negação e rejeição de qualquer outro nome que possa nos reconciliar com Deus, e isso soa como um preconceito, uma forma de discriminação inaceitável. Afirmar que a Bíblia é a Palavra de Deus e que só ela traz a revelação do propósito redentor de Jesus é também uma afirmação que pode ser considerada preconceituosa, uma vez que nega todas as outras formas de revelação.De certa forma, isso já vem acontecendo. A espiritualidade cristã pós-moderna vem se tornando cada dia mais light. Fala-se muito pouco sobre o arrependimento e o pecado; prega-se quase nada sobre a cruz e a ressurreição; as Escrituras vêm perdendo sua autoridade. Jesus vem sendo reduzido a um grande líder, alguém que nos deixou um bom exemplo para seguir – alguma coisa no mesmo nível de Buda, Ghandi, Dalai Lama ou outro grande líder da humanidade, mas nada muito, além disso. Fala-se muito de um Deus que é Pai e nos aceita, ama, acolhe e perdoa, o que é certo e bíblico; mas corre-se o risco de, por trás dessa linguagem suave e atraente, embutir uma espiritualidade que pensa ser possível conhecer a Deus-Pai sem a mediação de seu Filho Jesus Cristo.A primeira geração de cristãos pós-modernos já está aí. São crentes que pouco ou nada sabem da Palavra de Deus e demonstram pouco ou nenhum interesse em conhecê-la. Cultivam uma espiritualidade verticalista, com nenhuma consciência missionária, social ou política. Consideram tudo muito “normal” e não vêem nenhuma relevância na cruz de Cristo. Acham que a radicalidade da fé bíblica é uma forma de fanatismo religioso e não demonstram nenhuma preocupação em lutar pelo que crêem, se é que crêem em alguma coisa pela qual valha a pena lutar.A espiritualidade bíblica e cristã encontra-se solidamente fundamentada nas Escrituras Sagradas, centrada na pessoa e obra de Jesus Cristo, alicerçada na revelação trinitária de Deus. É uma espiritualidade que leva em conta o pecado, não como uma categoria psicológica ou sociológica, mas como uma realidade teológica. Portanto, não será a cultura que haverá de determinar sua natureza, mas a antropologia bíblica. É também uma espiritualidade que, além de promover a oração, a comunhão e a intimidade com o Pai por meio de Cristo, envolve-nos com o Reino de Deus, estabelecendo novos paradigmas morais, políticos, econômicos e sociais que nem sempre comungam com a ordem estabelecida pela cultura. A espiritualidade cristã não é simplesmente uma forma de nos sentirmos bem em nossa busca religiosa, mas a forma como respondemos a Deus através da revelação de Jesus Cristo. O cristão pós-moderno é hoje desafiado a experimentar uma espiritualidade que o coloque na fronteira entre a comunhão vertical da oração, meditação, contemplação e intimidade com Deus, e o compromisso horizontal com a missão evangelizadora, com os pobres, com a justiça e o serviço; entre a inclusão, buscando receber, acolher e amar os diferentes, mas também rejeitar, confrontar e lutar contra o pecado e todas as suas formas de escravidão e aprisionamento; entre o diálogo inter-religioso na procura por mecanismos sociais mais justos, mas também na afirmação e compromisso com as verdades absolutas da revelação bíblica.Que o Espírito Santo nos dê discernimento e coragem para uma fé e um espírito comprometidos com o Deus da Aliança, preservando a identidade cristã, mesmo que isso nos custe alguns processos.
* * *
Ricardo Barbosa de Souza

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Venha a Mim e Beba!


Charles Haddon Spurgeon


“No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (João 7:37).

A paciência tem o seu perfeito trabalho no Senhor Jesus, e até o último dia da festa Ele proclamou aos judeus, assim como neste último dia do ano Ele nos proclama e espera ser gracioso para conosco. É verdadeiramente admirável a longanimidade do Salvador em suportar alguns de nós ano após ano, apesar de nossas provocações, rebeliões e resistência ao Seu Espírito Santo. Maravilha das maravilhas é estarmos na terra da misericórdia!

A piedade expressa-se mais claramente, pois Jesus exclamou, o que implica não somente a altura da sua voz, mas a ternura de seus tons. Ele suplicou para que fôssemos reconciliados. “Oramos por vocês”, disse o apóstolo, “como se o próprio Deus suplicasse a vocês por nosso intermédio”. Que termos fervorosos, emocionantes, são estes! Quão profundo deve ser o amor que faz com que o Senhor chore pelos pecadores, e como uma mãe embale seus filhos em seu regaço! Certamente a cada apelo do Senhor nosso coração desejoso atenderá.

A provisão é feita mais abundantemente; tudo é providenciado para que o homem possa mitigar a sede da sua alma. Para sua consciência, a expiação traz paz; para sua compreensão, o exemplo traz a mais rica instrução; para seu coração, a pessoa de Jesus é o mais nobre objeto de afeição; para todo homem, a verdade como é encontrada em Jesus provê a nutrição mais pura. A sede é terrível, mas Jesus pode removê-la. Embora a alma esteja totalmente faminta, Jesus pode restaurá-la.

A proclamação é feita mais livremente para que cada sedento seja bem-vindo. Nenhuma outra distinção é feita senão a da sede. Quer seja a sede da avareza, da ambição, do prazer, do conhecimento ou de descanso, aquele que sofre disso é convidado. A sede pode ser má em si mesma, e não ser um sinal de graça, mas antes um sinal de pecado imoderado ansiando para ser gratificado com goles mais profundos de lascívia; mas não é a bondade na criatura que leva ao sedento o convite; o Senhor Jesus envia-o, gratuitamente, sem acepção de pessoas.

A personalidade é declarada mais plenamente. O pecador deve vir a Jesus, não a trabalhos, ordenanças ou doutrinas, mas para um Redentor pessoal, que carrega nossos pecados em seu próprio corpo sobre a cruz. O Salvador sangrando, morrendo e ressurgindo é a única estrela da esperança para um pecador. Oh! como anelo por graça, a vir agora e beber, antes que o Sol se ponha no último dia deste ano!

Beber representa uma recepção para a qual nenhuma aptidão é requerida. Um louco, um ladrão, uma prostituta podem beber; e tal pecaminosidade de caráter não é empecilho para o convite ao crente em Jesus. Não precisamos de taça de ouro, nem de cálice adornado, no qual transportar a água para o sedento; a boca da pobreza é convidada a inclinar-se e tomar goles da corrente que flui. Lábios cheios de bolhas, leprosos, sujos podem tocar a corrente do amor divino; eles não podem poluí-la, mas eles serão purificados. Jesus é a fonte da esperança. Caro leitor, ouça a voz amorosa do amado Redentor quando proclama a cada um de nós:

“SE ALGUÉM TEM SEDE, VENHA A MIM E BEBA”.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Amore


De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça. Amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

William Shakespeare

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Cristianismo na China

Jayme Martins


Os comerciantes venezianos Nicoló e Matteo Polo respectivamente pai e tio de Emilione, vulgo Marco Pólo, estiveram na China na década de 60 do século XIII, tendo permanecido por alguns anos na corte do imperador Kubilay Khan. Ao regressar a Veneza, foram portadores de uma carta do Grande Khan ao Papa Clemente IV, pedindo informações do mundo cristão e o envio de missionários para difusão da fé cristã no Oriente. A imperatriz chinesa, que era cristã (!), encareceu-lhes, que, de volta à China, passassem por Jerusalém e lhe trouxessem um frasco de óleo bento da Igreja da Natividade.

Acontece que, quando os irmãos Polo chegaram a Veneza, o Papa havia falecido. Após esperarem por vários anos, como a escolha de um novo titular do Vaticano não se decidia, eles retornaram à China em 1271, desta vez com o jovem Marco. Ao passarem pela Palestina, inteiraram-se de que o bispo de Jerusalém havia sido designado Papa – Gregório X. Fizeram-lhe entrega da carta do imperador chinês e o novo Papa designou dois sacerdotes, a fim de acompanhá-los para empreender a tarefa de evangelização na China. Haveria muito a dizer a este respeito, mas vamos nos limitar apenas a um detalhe: como se explica que, a essa altura da História, a Imperatriz chinesa fosse cristã?

No Concílio de Éfeso (431), Nestório, bispo de Constantinopla, foi condenado por negar à Virgem Maria a denominação de Mãe de Deus. Longa polêmica, que já atravessara o Concílio de Nicéia (325). Nestório admitia apenas o título de Mãe de Cristo, pois distinguia em Jesus dois componentes: o Verbo (Deus) e o homem. E pretendia que Maria fosse tão somente mãe do homem e não de Deus. Para a maioria dos bispos, estava em causa a questão da unicidade da pessoa de Jesus.

Divergindo de Roma, Nestório e seus discípulos constituem uma das origens da Igreja Ortodoxa, um dos três grandes ramos do Cristianismo. Eles tiveram grande êxito na pregação do Cristianismo na Ásia Central. O reino dos Tunguts, por exemplo, uma das primeiras conquistas de Genghis Khan, era um reino cristão, de influência nestoriana. Morto o rei pelas tropas mongóis, Genghis Khan tomou para si a rainha como sua esposa. Teria sido essa a origem da tradição cristã na corte chinesa da dinastia Yuan (1279-1368), cujo fundador foi Kubilay, neto de Gengis. A exemplo de seu avô, que teve como orientador político, filosófico e religioso o famoso monge taoísta Shan Dong, Kubilay era um monarca bastante liberal no plano cultural.




quarta-feira, 2 de abril de 2008

Perpétua e Felicidade


Délnia Bastos

Era o início do terceiro século. O Império Romano tinha se fortificado em toda a região do Mediterrâneo. A sociedade gozava de estabilidade e privilégios — entre eles o de assistir aos jogos realizados no anfiteatro. Este compunha-se de uma estrutura oval, com algumas jaulas laterais para as feras, a arena no centro e um pequeno templo debaixo da arena. Ali, os gladiadores pediam as bênçãos dos deuses romanos para suas lutas, ao mesmo tempo em que os condenados pelo rei aguardavam sua sentença. Ao redor da arena, havia uma espécie de arquibancada para o público assistir confortavelmente aos espetáculos.

Naquela época, o imperador Sétimo Severo baixou um edito segundo o qual todos deveriam oferecer sacrifícios aos deuses romanos e ao próprio imperador. O infrator era sentenciado, juntamente com outros criminosos.

Vívia Perpétua, uma jovem senhora da nobreza, e sua empregada Felicidade eram cristãs. Aos 20 anos, grávida, Perpétua foi condenada, juntamente com Felicidade e mais três cristãos, por desobedecerem ao edito imperial. Em vão o pai de Perpétua tentou várias vezes convencê-la de desistir da fé e sacrificar aos deuses. “O que será do seu filho?”, o pai a advertiu, sem sucesso.

Assim, em 7 de março de 203, foi dado o veredicto final: “Perpétua, Felicidade, Revocato, Secúndulo, Saturnino e Saturo são condenados às bestas no Anfiteatro de Cartago”. Segundo a história, Saturo não estava entre os condenados, mas voluntariamente compartilhou do martírio de seus irmãos em Cristo. Perpétua havia feito um pedido especial a Deus, e foi atendida: deu à luz no dia anterior à sua morte e uma amiga cristã adotou seu pequeno filho.

Os condenados deveriam usar uma roupa designada para o espetáculo. Cada roupa fazia menção a um deus romano, de modo que o sentenciado era oferecido como sacrifício àquele deus. Perpétua e Felicidade, e depois seus companheiros, se negaram a usar a “roupa festiva”, como que num último fôlego de testemunho — nem mesmo sua morte se tornaria oferenda para os deuses. Eles entraram na arena com pouquíssima roupa, mas com um brilho e uma alegria de espírito humanamente inexplicáveis. Todos eles tinham consciência de que sua morte seria um testemunho público importante para o avanço da fé cristã. Felicidade dizia que seu martírio significava para ela não a morte, mas um segundo batismo.

Os homens foram os primeiros a entrar na arena. Dois deles deveriam passar por uma ponte com uma série de obstáculos, entre os quais algumas feras, como leões e tigres, até que chegassem aos gladiadores. Secúndulo morreu na prisão, antes mesmo de chegar à arena. Saturnino foi decapitado e os outros dois morreram durante o espetáculo.

Por último, entraram a jovem senhora e sua companheira. Para elas, foi designada uma bezerra, que investiu primeiramente em Perpétua e em seguida avançou para Felicidade. Perpétua, após recobrar a consciência, ajudou Felicidade a se levantar. Conta-se que escorria leite daquela que amamentara apenas um dia seu filhinho recém-nascido. Elas foram retiradas da arena feridas, para serem mortas pelos gladiadores. A platéia estava exaltada. Queria mais, e exigiu que a morte fosse pública. Elas então morreram na arena, pelas espadas dos gladiadores.

Esta história comovente certamente nos lembra a passagem bíblica que diz: “Eles, pois, venceram [Satanás] por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida” (Ap 12.11). Segundo Tertuliano, o sangue dos mártires é a semente da igreja. Com efeito, o sangue de Perpétua, Felicidade e de seus irmãos em Cristo foi a semente da igreja no Norte da África. Sua morte deveria ser um presente do imperador Severo para seu filho César Geta. Mas foi muito mais um presente para a igreja.

Os poucos cristãos que vivem naquela região felizmente não estão mais sob o jugo opressor romano. Mas precisam da mesma ousadia e fé para “enxergar além do véu” e enfrentar os obstáculos de oposição e perseguição a que ainda estão sujeitos hoje.

Fonte: Revista Ultimato (março- abril 2008)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

A História da Igreja


" Nossa própria geração desfruta da herança dada a nós pela geração que nos precedeu. Muitas vezes sabemos mais, não porque temos estado à frente por nossa própria habilidade natural, mas porque somos apoiados pela força [mental] de outros, e possuímos riquezas inerentes dos nossos antepassados." João de Salisbury (1115-1180)



A história da Igreja de D. Jeffrey Bingham editado pela CPAD (2007) aborda a história da igreja de forma rica e sucinta. Jeffrey Bingham tem por objetivo "não apenas descobrir os tesouros do passado da igreja, mas sim mostrar como a história nos ajuda em nossa própria jornada espiritual nos dias de hoje."

A história é vista como um tesouro, uma rica herança trancada dentro de uma arca onde encontram-se: diamantes, esmeraldas, soberanos de ouro e correntes de prata espanhola, que são vistas como introdução de cada capítulo.

A Igreja Primitiva foi o diamante que sustentou a doutrina, foram doutrinamente dedicados e teologicamente astutos, por vários motivos, dentre eles os falsos mestres que continuaram a ameaçar a fé dos crentes, as interpretações variadas e exageradas dos ensinos apostólicos, orgulho faccioso que dividia a igreja e a perseguição, comum nos primeiros dias do cristianismo.

A parte um do livro, passa pelos pais apostólicos cujo lema era a adoração e o discipulado enquanto comunidade de Cristo, em submissa unidade, verdade doutrinária , renúncia, e comenta temas como o dos apologistas, Irineu e outros...

De belos ornamentos de esmeralda foi constituída a igreja na Idade Média, seus problemas eram diferentes daqueles enfrentados pela Igreja Primitiva, as relações entre política e evangelho, formalismo e fé, sociedade e igreja, cultura e conversão tornaram-se, às vezes, indistintas. A " cultura cristã" era confundida com a conversão do coração, instituições e hierarquias foram confundidas com igreja e liderança, a teologia é privativa ao clero e não diz respeito ao leigo. Porém, há exemplos de liderança cristã, oração, uso correto da mente e a prática da vida piedosa.

Mesmo nos momentos nebulosos a vida espiritual da igreja continuou, apesar de a igreja passar por uma época turbulenta em que o mundo estava desintegrando, os crentes durante o período medieval ainda buscavam viver de acordo com a Palavra de Deus. Segundo Beryl Smalley em seu clássico The Study of the Bible in the Middle Ages ( O Estudo da Bíblia na Idade Média): " A Bíblia foi o livro mais estudado da Idade Média. O estudo da Bíblia representou a mais alta forma de se aprender."

Na Reforma Protestante, a doutrina da Igreja é comparada a uma coroa cheia de pedras preciosas na qual os reformadores observaram que algumas jóias inestimáveis foram substituídas por falsificações e o ouro ficou manchado. Os pedaços das verdadeiras doutrinas da salvação, da Igreja e das Escrituras misturaram-se e necessitavam ser arrumadas. Então, surgiram nomes como Martinho Lutero e João Calvino, John Huss e John Wycliffe foram seus antecessores e nos séculos XIV e XV trataram discussões com as quais os reformadores protestantes do século XVI eram simpatizantes.

Na Idade Moderna o autor aborda temas como o Iluminismo e o seu impacto na espiritualidade. Os despertamentos espirituais no século XVIII foram importantíssimos para a história protestante com exemplos; como os reavivamentos em Nova Jersey, Pensilvânia, Massachusetts e em 1906 o reavivamento da rua Azusa, assim como, as missões protestantes modernas e o evangelicalismo.

Os cristãos para D. Jeffrey Bingham " são pessoas que olham tanto para o passado quanto para o futuro adiante, pessoas com entendimento histórico e expectativa confiante."


Franci (resumo do livro)