Watchman Nee
Azeitonas que não conheceram a pressão,
nunca podem azeite conceder;
Se as uvas escaparem do lagar,
o vinho da alegria nunca pode fluir;
Só sendo triturado é que o nardo
pode difundir sua fragrância.
Recuarei então do sofrimento,
ao qual Teu amor induz?
Cada golpe que sofro, é verdadeiro
ganho para mim;
No lugar daquilo que tiras,
Tu te das a Ti mesmo a mim.
As cordas do meu coração
precisam ser esticadas por Ti,
Para provar a música Divina?
A música mais doce deve vir,
do duro tratamento do Teu amor?
Senhor, não temo qualquer privação,
se eu for atraído a Ti;
Quero me entregar em plena rendição,
pra ver todo o Teu coração de amor.
Estou envergonhado, Senhor,
por buscar, guardar sempre a mim mesmo;
Embora Teu amor tenha feito seu despojamento,
Ainda me senti constrangido por Teu caminho.
Senhor, conforme o Teu prazer,
Completa Tua obra em mim;
Desconsiderando meus sentimentos humanos,
Faça apenas o que Te agrada.
Se Tua mente e a minha foram diferentes,
Segue Teu caminho, Senhor;
Se Teu prazer significa minha tristeza,
ainda assim meu coração dirá: Sim!
É meu profundo desejo Te agradar,
Embora eu possa sofrer perdas;
Mesmo que Teu prazer e glória,
signifiquem que eu suporte a Cruz.
Oh, Te louvarei mesmo chorando,
Mistura-Te com meu cântico;
Tua crescente doçura provoca,
louvores de gratidão o dia todo.
Tu fizeste a Ti mesmo mais precioso,
Do que tudo para mim;
Cresça, Tu Senhor, e eu diminua
Esta é agora minha única súplica.
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Azeitonas que não foram espremidas
sábado, 27 de dezembro de 2008
Louvor e Invocação
Agostinho de Hipona
És grande, Senhor e infinitamente digno de ser louvado; grande é teu poder, e incomensurável tua sabedoria. E o homem, pequena parte de tua criação quer louvar-te, e precisamente o homem que, revestido de sua mortalidade, traz em si o testemunho do pecado e a prova de que resistes aos soberbos. Todavia, o homem, partícula de tua criação, deseja louvar-te.
Tu mesmo que incitas ao deleite no teu louvor, porque nos fizeste para ti, e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso.
Concede, Senhor, que eu bem saiba se é mais importante invocar-te e louvar-te, ou se devo antes conhecer-te, para depois te invocar. Mas alguém te invocará antes de te conhecer?
Porque, te ignorando, facilmente estará em perigo de invocar outrem. Porque, porventura, deves antes ser invocado para depois ser conhecido? Mas como invocarão aquele em que não crêem?
Ou como haverão de crer que alguém lhos pregue?
Com certeza, louvarão ao Senhor os que o buscam, porque os que o buscam o encontram e os que o encontram hão de louvá-lo.
Que eu, Senhor, te procure invocando-te, e te invoque crendo em ti, pois me pregaram teu nome. Invoca-te, Senhor, a fé que tu me deste, a fé que me inspiraste pela humanidade de teu Filho e o ministério de teu pregador.
(Confissões, Agostinho de Hipona, capítulo I)
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Natal: Nosso Salvador nasceu!
1° Sermão de natal- Leão Magno, Papa
(440-464 A.D.)
Nosso Salvador, amados filhos, nasceu hoje; alegremo-nos. Não pode haver tristeza quando nasce a vida: dissipando o temor da morte, enche-nos de alegria com a promessa da eternidade. Ninguém está excluído da participação nessa felicidade; a causa da alegria é comum a todos porque nosso Senhor, aquele que destrói o pecado e a morte, não tendo encontrado nenhum homem isento de culpa, veio libertar a todos. Exulte o justo, porque se aproxima da vitória. Rejubile o pecador, porque é convidado ao perdão. Reanime-se o gentio, porque é chamado à vida.
Ao chegar a plenitude dos tempos, fixada pelos insondáveis desígnios divinos, o Filho de Deus assumiu a natureza do homem para reconciliá-lo com o seu Criador, de modo que o demônio, autor da morte, fosse vencido pela mesma natureza que ele antes vencera. Esse combate travado por nossa causa realizou-se com grande e admirável equidade: o Senhor todo poderoso lutou contra o inimigo cruel, não em sua majestade, mas em nossa humilde condição, opondo-lhe a mesma forma e a mesma natureza que a nossa, igualmente mortal, porém imune de todo pecado. Não se aplica por certo a esse nascimento o que se lê a respeito de todos os outros: Ninguém está isento de mácula, nem mesmo a criança que só tem um dia de vida na terra. 'Esse nascimento único nada deveu à concupiscência da carne, nada da condição do pecado se comunicou a ele. É escolhida uma virgem da estirpe real de Davi para trazer em seu seio essa santa descendência, a criança divina e humana que ela concebe em seu espírito antes de conceber em seu corpo. E para impedir que, ignorando o desígnio celeste, ficasse perturbada com efeitos tão insólitos, sabe por um anjo o que o Espírito Santo iria nela operar; e não teme por sua pureza aquela que seria em breve mãe do Filho de Deus. Por que, na verdade, recear essa extraordinária concepção, se recebeu a promessa de que ela se faria pelo poder do Altíssimo? Aliás sua fé é confirmada pelo testemunho de um milagre anterior: Isabel é agraciada com uma inesperada fecundidade; não se poderia desse modo duvidar de que daria à virgem o privilégio de conceber, aquele que já o dera à estéril.
Assim o Verbo de Deus, Filho de Deus e ele próprio Deus, que no princípio estava com Deus, por quem tudo foi feito e sem o qual nada foi feito, tornou-se homem para libertar da morte eterna o homem. Abaixou-se até revestir a nossa humilde condição, sem prejuízo de sua majestade; permanecendo o que era e assumindo o que não era, uniu verdadeiramente a forma de servo àquela forma em que é igual ao Pai e ligou tão estreitamente as duas naturezas que a glorificação não consumiu a inferior, nem a condescendência diminuiu a superior. Permanecendo, pois incólumes as propriedades de cada natureza na unidade de uma só pessoa, a humildade é assumida pela majestade, a fraqueza pela força, a condição mortal pela eternidade; e para solver a dívida de nossa condição humana, a natureza inviolável une-se a uma natureza passível e o Deus verdadeiro e o homem verdadeiro se associam na unidade do Senhor. Desse modo, como era necessário para nosso remédio, o único e mesmo mediador entre Deus e os homens poderia, de uma parte, morrer e da outra, ressuscitar.
Esse nascimento, amados filhos, convinha a Cristo, poder e sabedoria de Deus; por meio dele uniu-se a nós pela humanidade, continuando a nos ser superior pela divindade. Se ele não fosse verdadeiro Deus, não nos teria trazido socorro; se não fosse verdadeiro homem, não nos teria dado seu exemplo. Eis por que, ao nascimento do Senhor, os anjos, exultantes de alegria, cantam: Glória a Deus nas alturas e anunciam: Paz na terra aos homens de boa vontade. Eles vêem a Jerusalém celeste ser formada de todas as nações do mundo; por essa obra inexprimível do amor divino, como não devem se alegrar os homens, em sua pequenez, quando os anjos, com sua grandeza, assim se rejubilam?
Amados filhos: demos graças a Deus Pai, por seu Filho, no Espírito Santo; pois, na imensa misericórdia com que nos amou, compadeceu-se de nós; e como estávamos mortos por nossos pecados, fez-nos reviver com o Cristo para que fôssemos nele uma nova criação, nova obra de suas mãos. Despojemo-nos portanto do velho homem com seus atos; e tendo sido admitidos a participar do nascimento de Cristo, renunciemos às obras da carne. Toma consciência, ó cristão, de tua dignidade, e já que participaste da natureza divina não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição. Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro. Recorda-te de que foste arrebatado do poder das trevas e levado para a luz e o reino de Deus. Pelo sacramento do batismo te tornaste o templo do Espírito Santo. Não expulses com má ação tão grande hóspede, não recaias sob o jugo do demônio, porque o preço de tua salvação é o sangue de Cristo. Julgar-te-á segundo sua verdade aquele que te redimiu em sua misericórdia e reina, com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Incentivo aos conquistadores de almas
Em Tiago 5:19-20 lemos: "Irmãos, se alguns de entre vós se tem desviado da verdade, e se converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados".
Tiago é eminentimente prático. Se de fato se trata do Tiago chamado "o Justo", posso compreender como recebeu o título, pois esse traço distintivo do seu caráter patenteia-se na epístola. Se o escritor é "o irmão do Senhor", fez bem em demonstrar tão forte semelhança com seu grande Parente e Senhor, que começou o Seu ministério com o prático sermão do monte. Devemos ser agradecidos ao fato de termos, nas Sagradas Escrituras, alimento para todo tipo de crentes, e emprego para todos os talentos dos salvos. Convinha que os contemplativos fossem supridos de abundantes temas para o exercício do pensamento. Paulo os forneceu. Deu-nos sã doutrina, disposta na simetria característica da ordem exata. Deu-nos pensamentos elevados e ensinamentos profundos. Pôs a descoberto verdades grandiosas pertencentes a Deus. Ninguém que seja propenso à reflexão e à meditação ficará sem nutrição enquanto existirem as epístolas paulinas, pois ele alimenta a alma com maná sagrado.
Contudo, sempre haverá uma classe de pessoas mais práticas do que contemplativas, e foi demonstração de sabedoria que houvesse um Tiago, cujo principal objetivo seria desperta-lhes a mente limpa por meio de exortações, e ajudá-las a perseverar nos dons práticos do Espírito Santo. O texto de que estamos tratando é talvez a declaração mais prática da epístola (Tiago 5: 19-20). A epístola inteira arde em chamas, mas esta passagem sobe ao céu em labaredas. É o pon to culminante da carta, bem como sua conclusão. Não se pode dispensar uma palavra destes dois versículos. São como uma espada nua, desprovida de sua bainha ornada de jóias, e apresentada de modo que só se lhe pode notar o gume afiado. Eu gostaria de poder pregar segundo o padrão do texto. Se não puder, pelo menos orarei no sentido de que vocês sejam habilitados por Deus a agir segundo esse padrão. O que lamentavelmente falta em muitos lugares é o viver inteiramente dedicado ao Senhor Jesus. Temos suficientes ornamentos cristãos, mas o de que precisamos é trabalho sólido, diário e concreto a serviço de Deus. Bom será que as nossas vidas, por mais despojadas que sejam dos louros de conquistas literárias ou outras finas realizações, produzam frutos para Deus em forma de almas convertidas por meio dos nossos esforços. Assim, poderão apresentar-se diante de Deus com a beleza da oliveira, beleza que consiste em sua produtividade.
C. H. Spurgeon. O Conquistador de almas. págs, 219 e 220.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Procurar viver o evangelho
Alguns de vocês, se não podem falar ou escrever muito, podem ao menos viver o evangelho. Esse é um belo modo de pregar - pregar com os nossos pés. Quer dizer, pregar com a nossa vida, com a nossa conduta, com a nossa conversação. A esposa amorosa, que chora em segredo pelo marido infiel, mas o trata sempre com amabilidade; o filho extremoso, cujo coração está quebrantado pela blasfêmia do pai, mas é muito mais obediente do que costumava ser antes de sua conversão; o criado a quem o patrão amaldiçoa, mas a quem pode confiar a carteira com dinheiro, sem saber que quantia há nela; o homem de negócios, escarnecido por pertencer a outra denominação, mas que é direito como uma linha reta, e que não se deixaria arrastar para nenhuma ação indigna por tesouro nenhum - são estes os homens e mulheres que pregam os melhores sermões. Estes são os pregadores práticos com que vocês podem contar.
Dêem-nos o vosso viver santo, e com ele como alavancas mudaremos o mundo. Com a bênção de Deus, acharemos línguas para anunciar a mensagem, mas a nossa grande necessidade é a das vidas dos cristãos de nossas igrejas como ilustração viva daquilo que nossos lábios digam. O evangelho se parece um tanto com um jornal ilustrado. As palavras do pregador são a letra impressa, e os clichês ilustrativos são os homens e mulheres que formam as nossas igrejas. Quando o povo pega um jornal desses, muitas vezes não lê o impresso, mas sempre olha as figuras; o mesmo acontece na igreja, os de fora talvez não venham ouvir o pregador, mas sempre ponderam, observam e criticam as vidas dos membros da igreja. Portanto, caros irmãos e irmãs, se querem ser conquistadores de almas, procurem viver intensamente o evangelho. " Não tenho maior gozo do que este: o de ouvir que os meus filhos andam na verdade".
O Conquistador de Almas,PES, C. H. Spurgeon, pág. 180.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Não só testemunhas e advogados, mas também exemplos.
C. H. Spurgeon
Na igreja cristã precisamos fazer maior uso da arte do chamariz; quer dizer, o exemplo, indo nós mesmos a Cristo, vivendo nós mesmos piedosamente em meio a uma geração perversa; nosso exemplo de alegria e tristeza, nosso exemplo de santa submissão à vontade de Deus na adversidade, e em toda forma de procedimentos benévolos, será o meio de induzir outros a entrarem no caminho da vida.
Naturalmente ninguém vai pôr-se a falar na rua sobre o seu exemplo pessoal.; mas não há pregador ao ar livre que não seja mais conhecido do que ele pensa. No seio da multidão pode haver alguém que conhece a tua vida particular. Uma vez ouvi falar de um pregador de praça pública a quem um ouvinte gritou: "Ah, João você não teria coragem de pregar dessa forma em frente da tua casa!" O que acontecera pouco antes, infelizmente, foi que o senhor João havia desafiado seu vizinho para uma briga e, portanto, não é provável que ele pregasse perto de sua casa. Isso fez daquela interrupção um verdadeiro desastre. Se a vida de alguém no lar for indigna, essa pessoa deverá viajar muitos quilômetros antes de levantar-se para pregar e, ao levantar-se, não deverá dizer nada. Os outros não conhecem, irmãos, sabem muito mais de nós do que podemos imaginar - e o que não sabem, inventam. O nosso comportamento e as nossas palavras devem constituir a parte mais poderosa do nosso ministério. Isso é o que se chama ser coerente, quando os lábios e a vida estão de acordo.
Abrevia-se o meu tempo, mas devo dizer uma palavra sobre outro ponto mais. Eu disse que a ação do Espírito Santo depende em grande parte do servo de Deus, mas devo acrescentar que também dependerá muito da classe de pessoas que rodeiam o pregador. O pregador que tenha que ir para o trabalho ao ar livre inteiramente só, estará em situação deveras infeliz. É estremamente proveitoso estar ligado a uma igreja zelosa e dinâmica que estará orando por você. Alguns pregadores são tão independentes que podem realizar seu trabalho sem auxiliares, mas serão sábios se não procurarem causar boa impressão com isso.
O Conquistador de Almas, PES, págs. 126 e 127.
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
C. H. Spurgeon - O Conquistador de Almas
Neste livro " O Conquistador de Almas" de 1986 da editora PES, Spurgeon (19 de junho de1834 — 31 de janeiro de 1892) expõe de forma clara e explícita a natureza e os aspectos principais da obra de ganhar almas para Cristo. O livro na verdade é uma junção dos dircursos dirigidos a estudantes do Seminário Teológico e de outras palestras para outros ouvintes , sobre o mesmo tema, que ele denominava "o ofício de maior realeza" - conquistar almas. Separarei alguns trechos do livro...
pecados antes amados,
e mostrar grande pesar
não os praticando mais."
Outra prova de que se conseguiu a conquista de uma alma para Cristo se vê na verdadeira mudança de vida. Se o homem não vive diferentemente de como vivia antes, em casa e fora, terá de se arrepender do seu arrependimento, e sua conversão é falsa. E não só o modo de agir e o linguajar deve mudar, mas também o espírito e o temperamento. "Mas", dirá alguém, " a graça muitas vezes é enxertada em rude planta silvestre." Sei disso. Mas, qual é o fruto do enxerto? Será semelhante ao enxerto, e não da natureza do tronco original.
C. H Spurgeon. O Conquistador de Almas, editora PES ( publicações evangélicas selecionadas), 1986, 2ª ed. págs. 23 e 24.
Completa submissão a Deus
Uma das principais qualidades do pincel de um grande artista é sua rendição ao dono, para que faça dele o que bem quiser. Um harpista preferirá tocar com sua harpa particular porque conhece o instrumento, e quase se pode dizer que o instrumento o conhece. Assim, quando Deus põe a Sua mão sobre as próprias cordas do vosso ser, e todas as vossas faculdades interiores parecem responder aos movimentos da mão divina, vocês se tornam instrumentos que Ele pode utilizar. Não é fácil manter-nos nesta condição, bastante sensíveis para recebermos toda a impressão que o Espírito Santo queira transmitir-nos e para sermos de pronto influenciados por Ele.
O Conquistador de Almas, editora PES, pág. 48.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
A minha graça te basta
C. H. Spurgeon
“A minha graça te basta” (II Coríntios 12:9)
Se nenhum dos santos de Deus fosse humilhado e sujeito às provações, não conheceríamos tão bem nem metade das consolações da graça divina. Quando encontramos um andarilho que não tem onde reclinar a cabeça, mas que pode dizer: "mesmo assim confiarei", ou quando vemos um pobre necessitado de pão e água que ainda se gloria em Jesus; quando vemos uma viúva enlutada assolada por aflições e ainda tendo fé em Cristo, oh! que honra isto reflete no evangelho. A graça de Deus é exemplificada e engrandecida na pobreza e nas provações dos crentes. Os santos resistem a todo desalento, crendo que todas as coisas cooperam para o seu bem, e que, entre todas as coisas aparentemente ruins afinal florescerá uma verdadeira bênção - que, ou seu Deus operará um rápido livramento, ou, com toda certeza, os sustentará na provação, enquanto assim Lhe aprouver. Esta paciência dos santos prova o poder da graça divina. Há um farol em alto mar: a noite está calma - não posso dizer se sua estrutura é sólida ou não; a tempestade precisa desabar sobre ele, e só assim saberei se continuará em pé. Assim é com a obra do Espírito Santo: se ela não fosse cercada por águas tempestuosas em muitas ocasiões, não saberíamos que é forte e verdadeira; se os ventos não soprassem sobre ela, não saberíamos o quanto é firme e segura. As obras-primas de Deus são aqueles homens que permanecem firmes, inabaláveis, em meio às dificuldades:
"Calmo em meio ao choro transtornado
Confiante na vitória."
Aquele quer quer glorificar seu Deus deve ter em conta o enfrentar muitas provações. Nenhum homem pode ser reconhecido diante do Senhor a menos que suas lutas sejam muitas. Se, então, o teu for um caminho atribulado, regozija-te nele, pois mostrarás o teu melhor diante da toda-suficiente graça de Deus. Quanto a Ele falhar contigo, jamais penses nisto - odeia este pensamento. O Deus que foi suficiente até agora, o será até o fim.
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
Dietrich Bonhoeffer
A Bênção da Oração Matinal
Nosso dia recebe sua ordem e disciplina a partir da integridade do dia assim conquistada. Ela vai sendo buscada e achada na oração matutina. Vai sendo vivenciada no trabalho. A oração na manhã decide sobre o resto do dia. A vergonha quanto ao tempo desperdiçado, a fraqueza e o desânimo no trabalho, bem como a confusão e a indisciplina em nossos pensamentos e nos relacionamentos com outras pessoas freqüentemente têm sua origem no desleixo da oração matinal. A ordenação e o uso disciplinado do nosso tempo firmam-se quando procedem da oração. As tentações que brotam dos afazeres diários são vencidas pela busca de Deus. As decisões concernentes ao nosso trabalho tornam-se mais fáceis e mais leves quando são tomadas diante da face de Deus e não no temor de homens. “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor, e não para homens” (Colossenses 3.23). Até as tarefas rotineiras são executadas com mais paciência quando feitas a partir do conhecimento de Deus e do seu mandamento. A força para trabalhar cresce, quando pedimos a Deus que nos dê hoje a força que necessitamos para o nosso trabalho.
Fonte: Extraído de Orando com os Salmos. Encontrão Editora, 1995. p. 75
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A pessoa cristã
Cristã é aquela pessoa que já não busca a sua salvação, a sua redenção e a sua justificação em si mesma, mas exclusivamente em Jesus Cristo. Ela sabe que a Palavra de Deus em Jesus Cristo a condena, mesmo que ela não tenha consciência da própria culpa, e que a Palavra de Deus em Jesus Cristo a absolve e a declare justa, mesmo que ela não tenha consciência de sua própria justiça. A pessoa cristã não vive mais de si mesma, nem da auto-acusação nem da autojustificação, mas da acusação e da justificação de Deus. Vive inteiramente a partir da sentença que Deus pronuncia sobre ela, sujeita-se a ela na fé, quer a condene, quer a absolva. Vida e morte do cristão não se encontram nele mesmo; ele encontra ambas exclusivamente na Palavra que vem a ele de fora, na Palavra de Deus para ele. Os reformadores expressaram-no assim: nossa justiça é uma “justiça alheia”, uma justiça de fora (extra nos). Com isso eles queriam dizer que o cristão depende da Palavra que vem a seu encontro. O cristão vive totalmente da verdade da Palavra de Deus em Jesus Cristo. Perguntando-lhe sobre onde está sua salvação, sua felicidade, sua justiça, ele jamais poderá apontar para si mesmo, mas para a Palavra de Deus em Jesus Cristo que lhe assegura salvação, felicidade e justiça. O cristão anseia ardentemente por esta Palavra. Porque não passa um dia em que não sinta fome e sede de justiça, anseia sempre pela palavra libertadora. Só de fora ela pode vir. Ele mesmo é pobre, está morto. A ajuda deve vir de fora, e ela veio e torna a vir diariamente na Palavra a respeito de Jesus Cristo, trazendo salvação, justiça, inocência e felicidade.
Fonte: "Vida em Comunhão", Dietrich Bonhoeffer - Editora Sinodal, pg 13.
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
A pós-modernidade e a singularidade de Cristo
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Ricardo Barbosa de Souza
quarta-feira, 9 de julho de 2008
Venha a Mim e Beba!
“No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (João 7:37).
A paciência tem o seu perfeito trabalho no Senhor Jesus, e até o último dia da festa Ele proclamou aos judeus, assim como neste último dia do ano Ele nos proclama e espera ser gracioso para conosco. É verdadeiramente admirável a longanimidade do Salvador em suportar alguns de nós ano após ano, apesar de nossas provocações, rebeliões e resistência ao Seu Espírito Santo. Maravilha das maravilhas é estarmos na terra da misericórdia!
A piedade expressa-se mais claramente, pois Jesus exclamou, o que implica não somente a altura da sua voz, mas a ternura de seus tons. Ele suplicou para que fôssemos reconciliados. “Oramos por vocês”, disse o apóstolo, “como se o próprio Deus suplicasse a vocês por nosso intermédio”. Que termos fervorosos, emocionantes, são estes! Quão profundo deve ser o amor que faz com que o Senhor chore pelos pecadores, e como uma mãe embale seus filhos em seu regaço! Certamente a cada apelo do Senhor nosso coração desejoso atenderá.
A provisão é feita mais abundantemente; tudo é providenciado para que o homem possa mitigar a sede da sua alma. Para sua consciência, a expiação traz paz; para sua compreensão, o exemplo traz a mais rica instrução; para seu coração, a pessoa de Jesus é o mais nobre objeto de afeição; para todo homem, a verdade como é encontrada em Jesus provê a nutrição mais pura. A sede é terrível, mas Jesus pode removê-la. Embora a alma esteja totalmente faminta, Jesus pode restaurá-la.
A proclamação é feita mais livremente para que cada sedento seja bem-vindo. Nenhuma outra distinção é feita senão a da sede. Quer seja a sede da avareza, da ambição, do prazer, do conhecimento ou de descanso, aquele que sofre disso é convidado. A sede pode ser má em si mesma, e não ser um sinal de graça, mas antes um sinal de pecado imoderado ansiando para ser gratificado com goles mais profundos de lascívia; mas não é a bondade na criatura que leva ao sedento o convite; o Senhor Jesus envia-o, gratuitamente, sem acepção de pessoas.
A personalidade é declarada mais plenamente. O pecador deve vir a Jesus, não a trabalhos, ordenanças ou doutrinas, mas para um Redentor pessoal, que carrega nossos pecados em seu próprio corpo sobre a cruz. O Salvador sangrando, morrendo e ressurgindo é a única estrela da esperança para um pecador. Oh! como anelo por graça, a vir agora e beber, antes que o Sol se ponha no último dia deste ano!
Beber representa uma recepção para a qual nenhuma aptidão é requerida. Um louco, um ladrão, uma prostituta podem beber; e tal pecaminosidade de caráter não é empecilho para o convite ao crente em Jesus. Não precisamos de taça de ouro, nem de cálice adornado, no qual transportar a água para o sedento; a boca da pobreza é convidada a inclinar-se e tomar goles da corrente que flui. Lábios cheios de bolhas, leprosos, sujos podem tocar a corrente do amor divino; eles não podem poluí-la, mas eles serão purificados. Jesus é a fonte da esperança. Caro leitor, ouça a voz amorosa do amado Redentor quando proclama a cada um de nós:
“SE ALGUÉM TEM SEDE, VENHA A MIM E BEBA”.
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Amore
De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça. Amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.
William Shakespeare
quarta-feira, 16 de abril de 2008
Cristianismo na China
quarta-feira, 2 de abril de 2008
Perpétua e Felicidade
Era o início do terceiro século. O Império Romano tinha se fortificado em toda a região do Mediterrâneo. A sociedade gozava de estabilidade e privilégios — entre eles o de assistir aos jogos realizados no anfiteatro. Este compunha-se de uma estrutura oval, com algumas jaulas laterais para as feras, a arena no centro e um pequeno templo debaixo da arena. Ali, os gladiadores pediam as bênçãos dos deuses romanos para suas lutas, ao mesmo tempo em que os condenados pelo rei aguardavam sua sentença. Ao redor da arena, havia uma espécie de arquibancada para o público assistir confortavelmente aos espetáculos.
Naquela época, o imperador Sétimo Severo baixou um edito segundo o qual todos deveriam oferecer sacrifícios aos deuses romanos e ao próprio imperador. O infrator era sentenciado, juntamente com outros criminosos.
Vívia Perpétua, uma jovem senhora da nobreza, e sua empregada Felicidade eram cristãs. Aos 20 anos, grávida, Perpétua foi condenada, juntamente com Felicidade e mais três cristãos, por desobedecerem ao edito imperial. Em vão o pai de Perpétua tentou várias vezes convencê-la de desistir da fé e sacrificar aos deuses. “O que será do seu filho?”, o pai a advertiu, sem sucesso.
Assim, em 7 de março de 203, foi dado o veredicto final: “Perpétua, Felicidade, Revocato, Secúndulo, Saturnino e Saturo são condenados às bestas no Anfiteatro de Cartago”. Segundo a história, Saturo não estava entre os condenados, mas voluntariamente compartilhou do martírio de seus irmãos em Cristo. Perpétua havia feito um pedido especial a Deus, e foi atendida: deu à luz no dia anterior à sua morte e uma amiga cristã adotou seu pequeno filho.
Os condenados deveriam usar uma roupa designada para o espetáculo. Cada roupa fazia menção a um deus romano, de modo que o sentenciado era oferecido como sacrifício àquele deus. Perpétua e Felicidade, e depois seus companheiros, se negaram a usar a “roupa festiva”, como que num último fôlego de testemunho — nem mesmo sua morte se tornaria oferenda para os deuses. Eles entraram na arena com pouquíssima roupa, mas com um brilho e uma alegria de espírito humanamente inexplicáveis. Todos eles tinham consciência de que sua morte seria um testemunho público importante para o avanço da fé cristã. Felicidade dizia que seu martírio significava para ela não a morte, mas um segundo batismo.
Os homens foram os primeiros a entrar na arena. Dois deles deveriam passar por uma ponte com uma série de obstáculos, entre os quais algumas feras, como leões e tigres, até que chegassem aos gladiadores. Secúndulo morreu na prisão, antes mesmo de chegar à arena. Saturnino foi decapitado e os outros dois morreram durante o espetáculo.
Por último, entraram a jovem senhora e sua companheira. Para elas, foi designada uma bezerra, que investiu primeiramente em Perpétua e em seguida avançou para Felicidade. Perpétua, após recobrar a consciência, ajudou Felicidade a se levantar. Conta-se que escorria leite daquela que amamentara apenas um dia seu filhinho recém-nascido. Elas foram retiradas da arena feridas, para serem mortas pelos gladiadores. A platéia estava exaltada. Queria mais, e exigiu que a morte fosse pública. Elas então morreram na arena, pelas espadas dos gladiadores.
Esta história comovente certamente nos lembra a passagem bíblica que diz: “Eles, pois, venceram [Satanás] por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida” (Ap 12.11). Segundo Tertuliano, o sangue dos mártires é a semente da igreja. Com efeito, o sangue de Perpétua, Felicidade e de seus irmãos em Cristo foi a semente da igreja no Norte da África. Sua morte deveria ser um presente do imperador Severo para seu filho César Geta. Mas foi muito mais um presente para a igreja.
Os poucos cristãos que vivem naquela região felizmente não estão mais sob o jugo opressor romano. Mas precisam da mesma ousadia e fé para “enxergar além do véu” e enfrentar os obstáculos de oposição e perseguição a que ainda estão sujeitos hoje.
Fonte: Revista Ultimato (março- abril 2008)