segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Azeitonas que não foram espremidas




Watchman Nee

Azeitonas que não conheceram a pressão,
nunca podem azeite conceder;
Se as uvas escaparem do lagar,
o vinho da alegria nunca pode fluir;
Só sendo triturado é que o nardo
pode difundir sua fragrância.
Recuarei então do sofrimento,
ao qual Teu amor induz?
Cada golpe que sofro, é verdadeiro
ganho para mim;
No lugar daquilo que tiras,
Tu te das a Ti mesmo a mim.

As cordas do meu coração
precisam ser esticadas por Ti,
Para provar a música Divina?
A música mais doce deve vir,
do duro tratamento do Teu amor?
Senhor, não temo qualquer privação,
se eu for atraído a Ti;
Quero me entregar em plena rendição,
pra ver todo o Teu coração de amor.

Estou envergonhado, Senhor,
por buscar, guardar sempre a mim mesmo;
Embora Teu amor tenha feito seu despojamento,
Ainda me senti constrangido por Teu caminho.
Senhor, conforme o Teu prazer,
Completa Tua obra em mim;
Desconsiderando meus sentimentos humanos,
Faça apenas o que Te agrada.

Se Tua mente e a minha foram diferentes,
Segue Teu caminho, Senhor;
Se Teu prazer significa minha tristeza,
ainda assim meu coração dirá: Sim!
É meu profundo desejo Te agradar,
Embora eu possa sofrer perdas;
Mesmo que Teu prazer e glória,
signifiquem que eu suporte a Cruz.

Oh, Te louvarei mesmo chorando,
Mistura-Te com meu cântico;
Tua crescente doçura provoca,
louvores de gratidão o dia todo.
Tu fizeste a Ti mesmo mais precioso,
Do que tudo para mim;
Cresça, Tu Senhor, e eu diminua
Esta é agora minha única súplica.


sábado, 27 de dezembro de 2008

Louvor e Invocação



Agostinho de Hipona

És grande, Senhor e infinitamente digno de ser louvado; grande é teu poder, e incomensurável tua sabedoria. E o homem, pequena parte de tua criação quer louvar-te, e precisamente o homem que, revestido de sua mortalidade, traz em si o testemunho do pecado e a prova de que resistes aos soberbos. Todavia, o homem, partícula de tua criação, deseja louvar-te.
Tu mesmo que incitas ao deleite no teu louvor, porque nos fizeste para ti, e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso.

Concede, Senhor, que eu bem saiba se é mais importante invocar-te e louvar-te, ou se devo antes conhecer-te, para depois te invocar. Mas alguém te invocará antes de te conhecer?
Porque, te ignorando, facilmente estará em perigo de invocar outrem. Porque, porventura, deves antes ser invocado para depois ser conhecido? Mas como invocarão aquele em que não crêem?

Ou como haverão de crer que alguém lhos pregue?

Com certeza, louvarão ao Senhor os que o buscam, porque os que o buscam o encontram e os que o encontram hão de louvá-lo.
Que eu, Senhor, te procure invocando-te, e te invoque crendo em ti, pois me pregaram teu nome. Invoca-te, Senhor, a fé que tu me deste, a fé que me inspiraste pela humanidade de teu Filho e o ministério de teu pregador.

(Confissões, Agostinho de Hipona, capítulo I)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Natal: Nosso Salvador nasceu!



1° Sermão de natal- Leão Magno, Papa
(440-464 A.D.)

Nosso Salvador, amados filhos, nasceu hoje; alegremo-nos. Não pode haver tristeza quando nasce a vida: dissipando o temor da morte, enche-nos de alegria com a promessa da eternidade. Ninguém está excluído da participação nessa felicidade; a causa da alegria é comum a todos porque nosso Senhor, aquele que destrói o pecado e a morte, não tendo encontrado nenhum homem isento de culpa, veio libertar a todos. Exulte o justo, porque se aproxima da vitória. Rejubile o pecador, porque é convidado ao perdão. Reanime-se o gentio, porque é chamado à vida.

Ao chegar a plenitude dos tempos, fixada pelos insondáveis desígnios divinos, o Filho de Deus assumiu a natureza do homem para reconciliá-lo com o seu Criador, de modo que o demônio, autor da morte, fosse vencido pela mesma natureza que ele antes vencera. Esse combate travado por nossa causa realizou-se com grande e admirável equidade: o Senhor todo poderoso lutou contra o inimigo cruel, não em sua majestade, mas em nossa humilde condição, opondo-lhe a mesma forma e a mesma natureza que a nossa, igualmente mortal, porém imune de todo pecado. Não se aplica por certo a esse nascimento o que se lê a respeito de todos os outros: Ninguém está isento de mácula, nem mesmo a criança que só tem um dia de vida na terra. 'Esse nascimento único nada deveu à concupiscência da carne, nada da condição do pecado se comunicou a ele. É escolhida uma virgem da estirpe real de Davi para trazer em seu seio essa santa descendência, a criança divina e humana que ela concebe em seu espírito antes de conceber em seu corpo. E para impedir que, ignorando o desígnio celeste, ficasse perturbada com efeitos tão insólitos, sabe por um anjo o que o Espírito Santo iria nela operar; e não teme por sua pureza aquela que seria em breve mãe do Filho de Deus. Por que, na verdade, recear essa extraordinária concepção, se recebeu a promessa de que ela se faria pelo poder do Altíssimo? Aliás sua fé é confirmada pelo testemunho de um milagre anterior: Isabel é agraciada com uma inesperada fecundidade; não se poderia desse modo duvidar de que daria à virgem o privilégio de conceber, aquele que já o dera à estéril.

Assim o Verbo de Deus, Filho de Deus e ele próprio Deus, que no princípio estava com Deus, por quem tudo foi feito e sem o qual nada foi feito, tornou-se homem para libertar da morte eterna o homem. Abaixou-se até revestir a nossa humilde condição, sem prejuízo de sua majestade; permanecendo o que era e assumindo o que não era, uniu verdadeiramente a forma de servo àquela forma em que é igual ao Pai e ligou tão estreitamente as duas naturezas que a glorificação não consumiu a inferior, nem a condescendência diminuiu a superior. Permanecendo, pois incólumes as propriedades de cada natureza na unidade de uma só pessoa, a humildade é assumida pela majestade, a fraqueza pela força, a condição mortal pela eternidade; e para solver a dívida de nossa condição humana, a natureza inviolável une-se a uma natureza passível e o Deus verdadeiro e o homem verdadeiro se associam na unidade do Senhor. Desse modo, como era necessário para nosso remédio, o único e mesmo mediador entre Deus e os homens poderia, de uma parte, morrer e da outra, ressuscitar.

Esse nascimento, amados filhos, convinha a Cristo, poder e sabedoria de Deus; por meio dele uniu-se a nós pela humanidade, continuando a nos ser superior pela divindade. Se ele não fosse verdadeiro Deus, não nos teria trazido socorro; se não fosse verdadeiro homem, não nos teria dado seu exemplo. Eis por que, ao nascimento do Senhor, os anjos, exultantes de alegria, cantam: Glória a Deus nas alturas e anunciam: Paz na terra aos homens de boa vontade. Eles vêem a Jerusalém celeste ser formada de todas as nações do mundo; por essa obra inexprimível do amor divino, como não devem se alegrar os homens, em sua pequenez, quando os anjos, com sua grandeza, assim se rejubilam?

Amados filhos: demos graças a Deus Pai, por seu Filho, no Espírito Santo; pois, na imensa misericórdia com que nos amou, compadeceu-se de nós; e como estávamos mortos por nossos pecados, fez-nos reviver com o Cristo para que fôssemos nele uma nova criação, nova obra de suas mãos. Despojemo-nos portanto do velho homem com seus atos; e tendo sido admitidos a participar do nascimento de Cristo, renunciemos às obras da carne. Toma consciência, ó cristão, de tua dignidade, e já que participaste da natureza divina não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição. Lembra-te de que cabeça e de que corpo és membro. Recorda-te de que foste arrebatado do poder das trevas e levado para a luz e o reino de Deus. Pelo sacramento do batismo te tornaste o templo do Espírito Santo. Não expulses com má ação tão grande hóspede, não recaias sob o jugo do demônio, porque o preço de tua salvação é o sangue de Cristo. Julgar-te-á segundo sua verdade aquele que te redimiu em sua misericórdia e reina, com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Incentivo aos conquistadores de almas

C. H. Spurgeon

Em Tiago 5:19-20 lemos: "Irmãos, se alguns de entre vós se tem desviado da verdade, e se converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados".
Tiago é eminentimente prático. Se de fato se trata do Tiago chamado "o Justo", posso compreender como recebeu o título, pois esse traço distintivo do seu caráter patenteia-se na epístola. Se o escritor é "o irmão do Senhor", fez bem em demonstrar tão forte semelhança com seu grande Parente e Senhor, que começou o Seu ministério com o prático sermão do monte. Devemos ser agradecidos ao fato de termos, nas Sagradas Escrituras, alimento para todo tipo de crentes, e emprego para todos os talentos dos salvos. Convinha que os contemplativos fossem supridos de abundantes temas para o exercício do pensamento. Paulo os forneceu. Deu-nos sã doutrina, disposta na simetria característica da ordem exata. Deu-nos pensamentos elevados e ensinamentos profundos. Pôs a descoberto verdades grandiosas pertencentes a Deus. Ninguém que seja propenso à reflexão e à meditação ficará sem nutrição enquanto existirem as epístolas paulinas, pois ele alimenta a alma com maná sagrado.
Para aqueles cujos afetos e imaginação predominantes os inclinam a temas de natureza mais mística. João escreveu frases de ardente devoção e inflamadas de amor. Temos as suas epístolas singelas, mas sublimes - epístolas que, à primeira vista, parecem escritas para crianças. Entretanto, bem examinadas, vê-se que o seu sentido é tão sublime, que mesmo os homens mais desenvolvidos são incapazes de captá-lo plenamente. Desse mesmo apóstolo de olhos e vôo de águia temos as portentosas visões do livro de Apocalipse, onde o assombro, a devoção e a imaginação podem estender e encontrar amplitude para circunvoluções mais completas.
Contudo, sempre haverá uma classe de pessoas mais práticas do que contemplativas, e foi demonstração de sabedoria que houvesse um Tiago, cujo principal objetivo seria desperta-lhes a mente limpa por meio de exortações, e ajudá-las a perseverar nos dons práticos do Espírito Santo. O texto de que estamos tratando é talvez a declaração mais prática da epístola (Tiago 5: 19-20). A epístola inteira arde em chamas, mas esta passagem sobe ao céu em labaredas. É o pon to culminante da carta, bem como sua conclusão. Não se pode dispensar uma palavra destes dois versículos. São como uma espada nua, desprovida de sua bainha ornada de jóias, e apresentada de modo que só se lhe pode notar o gume afiado. Eu gostaria de poder pregar segundo o padrão do texto. Se não puder, pelo menos orarei no sentido de que vocês sejam habilitados por Deus a agir segundo esse padrão. O que lamentavelmente falta em muitos lugares é o viver inteiramente dedicado ao Senhor Jesus. Temos suficientes ornamentos cristãos, mas o de que precisamos é trabalho sólido, diário e concreto a serviço de Deus. Bom será que as nossas vidas, por mais despojadas que sejam dos louros de conquistas literárias ou outras finas realizações, produzam frutos para Deus em forma de almas convertidas por meio dos nossos esforços. Assim, poderão apresentar-se diante de Deus com a beleza da oliveira, beleza que consiste em sua produtividade.

C. H. Spurgeon. O Conquistador de almas. págs, 219 e 220.