quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A idade de ser feliz

Mário Quintana

Existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.
Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer.
(...)
Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO, e quantas vezes for preciso.
Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a duração do instante que passa.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Cruzes existem em abundância: quando a doutrina da cruz será pregada?

Henry Martyn (1805)

O mar estava muito bonito, como se fosse cenário romântico. A cidade lembra Funchal (capital da ilha da Madeira). Nas ruas, homens negros, com visível desagrado, carregavam pipas de madeira, e mulheres negras carregavam peixes, frutos etc. As coisas expostas à venda eram tartarugas, bananas, laranjas, limões, melões, mamões, tamarindos.

Subi a uma elevação e vi um homem parado ao lado do caminho, segurando o pedaço de um prato de prata, de formato oval. Ele recitava algumas palavras sobre Santo Antonio. Alguns dos que passavam beijavam o objeto que ele segurava, enquanto outros apenas tiravam seus chapéus para ele. Tive a impressão de que o próprio homem parecia ridicularizar o ato insensato dos transeuntes em relação ao objeto.

Em certa igreja, a missa estava sendo celebrada. Não era tão esplêndida como as celebradas em Madeira. Muitos dos padres eram negros. Do lado de fora dava para ver toda a bonita baía. Foi quando me lembrei do hino “Oh, tristes morros de escuridão”. Então eu disse para os meus botões: “Que feliz missionário será enviado para proclamar o nome de Jesus a estas regiões ocidentais? Quando será que esta linda terra se libertará da idolatria e do cristianismo espúrio? Cruzes existem em abundância, mas quando a doutrina da cruz será pregada?”.

Continuei meu caminho em busca de um tronco de árvore no qual pudesse me assentar. Finalmente, cheguei a uma magnífica varanda. O portão estava aberto e eu fui entrando. Quando percebi que o caminho me levava a uma casa, virei à esquerda e me encontrei dentro de um pomar. Ao ver que alguns escravos me observavam, resolvi me dirigir à entrada da casa. Lá encontrei um homem muito receptivo. Pouco depois, chegaram um jovem e uma jovem, ambos muito acolhedores. Ao saber que eu havia estudado em Cambridge, o rapaz, que havia sido educado numa universidade portuguesa, tornou-se mais receptivo ainda. Tivemos uma boa conversa e fizemos um bom passeio pela fazenda dele. Conversei com ele em francês e latim. A família me convidou a voltar quando bem o desejasse.

Voltei à fazenda de Antonio José Corre. Ele me recebeu com a mesma cordialidade, ainda que nos tivéssemos conhecido há tão pouco tempo. Provei alguns pratos típicos, vi muitas árvores frutíferas e os escravos trabalhando. Fiz um passeio com ele pela cidade. Visitamos o monastério dos carmelitas. Vi Antonio José fazer o sinal da cruz nele mesmo. Fiquei surpreso, mas não falei nada. Ali me encontrei com um padre. Como era a primeira vez que eu estava na companhia de um sacerdote católico romano, falei com ele em latim. Porém, ele me pareceu embaraçado, vermelho de vergonha, e disse que não falava latim. Fiquei triste por tê-lo colocado sem querer em uma situação difícil.
No quarto em que me hospedei na casa de Antonio José, um escravo lavou meus pés. Fiquei impressionado com o grau de humildade expresso nesse ato. Enquanto ele segurava meus pés na toalha, com sua cabeça inclinada para baixo, eu me lembrei do Senhor e orei: “Que eu tenha a graça de imitar diante de ti a humildade desse escravo”.

Num desses passeios, passamos por uma pequena igreja, cujo terreno era cercado por paredes. Naquela área eram queimados os cadáveres que vinham de um hospital próximo, todos vítimas de uma doença de pele chamada “morfeia”. O que é essa doença, não consegui descobrir. Na igreja, todos os três que estavam comigo fizeram o sinal da cruz em si mesmos. Eu não disse nada. Mas a partir disso, uma conversação começou entre nós, sobretudo porque o senhor José Antonio mencionou a eles minha objeção àquele gesto. O major que nos acompanhava argumentou com muita veemência. Antonio José atuou como intérprete. Baseando-me continuamente nas Escrituras, dei imediatas respostas. O velho major acabou me abraçando à maneira de seu país. José Antonio aproveitou para dizer que, em secreto, para não contrariar o pai, ele orava só a Deus e não aos santos. De minha parte, esperava mais da parte dele: era mais a confissão de uma mente liberal do que de uma mente religiosa.

Logo depois, vimos uma procissão de padres. Dois dos que estavam comigo se ajoelharam até a procissão passar. Como Antonio José disse que “se conformava com os costumes do país em suas coisas não muito significantes”, falei para ele que, se eu tivesse nascido português, preferiria, a exemplo dos reformadores ingleses, ser levado para a prisão ou para a fogueira, em vez de me conformar com a idolatria. Ao mesmo tempo, mencionei para ele a doutrina do “novo nascimento”. Mas ele não parecia prestar muita atenção. Quando Antonio José me perguntou se nossos soldados tinham um ministro para atendê-los em seus últimos momentos de vida, para instruí-los e consolá-los, foi a minha vez de corar de vergonha. Não soube explicar tão grande negligência entre os protestantes.

Nessa mesma ocasião, encontrei-me com um franciscano e me dirigi a ele em latim. A língua não foi embaraço nem para ele nem para mim. A certa altura, pedi a ele que me provasse pelas Escrituras as doutrinas do purgatório e da transubstanciação, bem como as questões das imagens e da supremacia do Papa. Os argumentos dele foram extremamente fracos e o Senhor me deu reposta para cada um deles. Durante nossa conversa, dois ou três outros religiosos do hospital se juntaram a nós e passaram a participar da nossa disputa. Um grande grupo de outros religiosos, passando pelo lado oposto ao nosso, acenou para eles e pediu que encerrassem a discussão, o que eles fizeram levando-me para uma sala mais retirada. Então conversamos muito. Eles pareceram surpresos com meus conhecimentos das Escrituras. Um deles, o que falava francês e também quem melhor falava latim, ficou muito bravo durante a disputa. Era sem dúvida o mais sincero de todos. Eles me perguntaram quando eu poderia voltar, para que me esperassem.

Demorei tanto em terra que perdi o barco de volta para navio. Tive de retornar à casa de Antonio José, onde fui muito bem recebido e onde também me ensinaram algumas palavra em português.

Quando me despedi da casa do senhor português, o pobre escravo Raimundo, que cuidou de mim e carregou minhas malas, começou a chorar. Enquanto eu me ia, ele veio para beijar meus pés. Mas eu lhe dei as mãos e nos despedimos de mãos dadas. Fui embora muito impressionado com a gentileza de pessoas para as quais eu era um completo estranho apenas poucos dias atrás. Sou agradecido a Deus por essa tão grande misericórdia.

Em meu caminho, encontrei um jovem padre franciscano com o qual conversei em latim. Quando eu lhe disse que em nenhuma parte das Escrituras era dito que se deveria adorar a Virgem, ele ficou vermelho e falou em voz baixa: “Verum est”.

No monastério, voltei a me encontrar com os mesmos quatro religiosos com os quais eu havia tido uma longa conversa. Depois de me dar guloseimas para comer, retomamos a disputa anterior. Eles tinham queixas de mim e eu deles. Fui embora dali muito triste ao ver como o evangelho pode ter tão pouco ou até mesmo nenhum efeito sobre eles. Este sentimento de tristeza não diminuiu quando eu cheguei no navio. Os tripulantes muçulmanos, vestidos em branco, cantavam hinos em honra a Maomé para comemorar a Hégira (a viagem de Maomé de Meca a Medina, no ano 622 depois de Cristo). Aqui estava outra abominação.

Um deles assentou-se ao meu lado e tivemos uma longe conversa. Depois, fui embora e clamei a Deus que interferisse em favor de seu evangelho.

No curso de uma hora, eu havia visto três chocantes exemplos do reino e poder de Satanás, na religião do papa, de Maomé e do próprio homem. Nunca antes eu havia percebido o quanto eu não era nada. Todos os meus claros argumentos não servem para nada. A menos que o Senhor estenda suas mãos, eu falo para pedras. O que eu senti, no entanto, não foi desencorajamento; simplesmente vi a necessidade da dependência de Deus!


(Adaptado de “Life and Letters of the Rev. Henry Martyn”, de John Sargent, publicado em Londres em 1862)


Fonte: Ultimato Janeiro/Fevereiro 2010

Henry Martyn

"Em novembro de 1805(...)um navio de bandeira inglesa que estava de viagem para a Índia pela mesma rota de Pedro Álvares Cabral aportou em Salvador por quinze dias. Um dos passageiros, de 24 anos, formado em matemática em Cambridge e ordenado ministro anglicano três anos antes, desceu do navio e foi conhecer a terra ensolarada que estava à sua frente. Chamava-se Henry Martyn e, à semelhança dos franciscanos que vieram com Cabral, ia para a Índia na qualidade de missionário.
Em terra, o jovem se encontrou com pessoas importantes e alguns sacerdotes católicos, com os quais conversou em francês e latim. Certo dia, foi parar na casa de um senhor de escravos muito educado, cujo filho, Antonio José, havia estudado numa universidade portuguesa. Por terem ambos formação superior, Martyn na Inglaterra, e Antônio em Portugal, os dois tinham muita coisa em comum e fizeram vários passeios juntos. A essa altura, Salvador, a antiga capital do Brasil, tinha 45 mil habitantes e muitas igrejas já haviam sido construídas.(...)Desde que havia deixado a Inglaterra, quatro meses antes (17 de julho de 1805), Henry Martyn anotava num diário todas as suas impressões de viagem. No dia 12 de novembro, ele escreveu algo que pode ser interpretado como um dos mais bem escritos e substanciosos desafios missionários: “Que feliz missionário será enviado para proclamar o nome de Jesus a estas regiões ocidentais? Quando será que esta linda terra se libertará da idolatria e do cristianismo espúrio? Cruzes existem em abundância, mas quando a doutrina da cruz será pregada?”.(...)
Depois de levantar âncoras da Baía de Todos os Santos, o navio em que Martyn estava gastou mais seis meses para chegar a Calcutá, ao nordeste da Índia (21 de abril de 1806). Se havia idolatria na Bahia, na Índia, a terra de milhares de deuses, a coisa era incomparavelmente pior. Ao ver homens e mulheres se prostrarem diante de uma imagem escabrosa, o expansivo Martyn anotou no celebre diário: “Eu tremi, como se estivesse de pé nas redondezas do inferno”. Além de ministrar para soldados e residentes ingleses em Calcutá, Dinapore e Cawmpore, por quatro anos e meio, Martyn pregava fluentemente no dialeto hindustani para os nativos. Sua pregação era tão atraente que ele costumava ter 800 pessoas em seus auditórios. Por causa de sua extraordinária capacidade linguística, em menos de um ano o jovem capelão traduziu para o hindustani (fevereiro de 1807) parte do “Livro de Oração Comum”, dos anglicanos, e o “Comentário sobre as Parábolas”. No ano seguinte, completou a versão do Novo Testamento (março de 1808). Pouco depois, apesar de doente, Martyn fez uma revisão da versão persa do Novo Testamento (fevereiro de 1812). Seu último trabalho foi a tradução dos Salmos para o persa. O agravamento de seu estado de saúde impediu que Martyn entregasse pessoalmente ao rei da Pérsia (hoje Irã) um exemplar do Novo Testamento em sua língua, o que foi feito por Sir Gore Onseley, o ministro britânico. Embora não desejasse voltar à pátria por causa de seu trabalho, Martyn foi obrigado a mudar de ideia para tentar se curar de uma tuberculose. Porém, não conseguiu chegar até a Inglaterra. Depois de viajar cerca de 2.400 quilômetros a cavalo, da Pérsia à Turquia, o rapaz de 31 anos morreu em Tocat, na Turquia Asiática, no meio de desconhecidos (16 de outubro de 1812). Em 1823, onze anos depois, um inglês residente em Bagdá erigiu um monumento sobre o túmulo de Martyn com os seguintes dizeres: “Ao rev. Henry Martyn, um pastor e missionário inglês, servo piedoso, versado e fiel, que, voltando à sua terra natal, o Senhor o chamou para sua alegria eterna”.
Porque a moça com a qual desejava casar (Lydia Grenfield) era uma inglesinha indecisa que não lhe dizia sim nem não, Henry Martyn viveu e morreu solteiro."

Fonte adaptada: Ultimato Janeiro/Fevereiro 2010

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Cléo. Desié. Aghatha. Aline...

Em nossas vidas pessoas passam... Tive amigas que ficaram/ficarão indelevelmente em minha memória: Cléo, Desié, Aghatha e Aline. Cada uma esteve presente em um momento singular de minha vida: infância, pré-adolescência e adolescência. SEMPRE penso nelas, sou um pouco fechada para falar de meus sentimentos, tenho colegas, mas até o momento não reencontrei amizade feminina como a de cada uma delas...
Com a Cléo fiz 1ª comunhão, íamos juntas para a catequese, depois passava a tarde na casa dela brincando de elástico, piques, etc. Depois fiz amizade com a Desié que era da minha sala e morava perto da minha casa, também vivia na casa dela, pré-adolescentes, o nosso papo era sobre meninos, namoro... Quando mudei de colégio era para a Desié mudar comigo, mas ela não foi, fui estudar num colégio particular totalmente diferente do meu mundo. Conheci a Aghatha, quando a vi pensei que era maluca... Depois comprovei que era verdade... Com ela conheci o mundo da contracultura, gente doida, vida maluca... Também vivia na casa dela, só que agora era mais longe, morava no Cubango e ela em Maria Paula... Nosso papo era sobre viagens, música, meninos, amor... Aghatha repetiu de série e depois saiu do colégio, nos víamos raramente... Conheci a Aline no colégio, no princípio a achei metida, depois viramos grandes amigas, minha vida começou a ter novos rumos, num certo dia me ajoelhei na frente da Aline, na sala de aula e disse que queria também ser evangélica... Nosso papo era sobre nova vida, princípios, Deus, amor...
Escrevo isso pois ontem reencontrei a Aghatha no Bay Market, depois de 10 anos, o que me fez refletir sobre amizade...

Cada uma me ajudou a ser quem eu sou hoje...
Sou grata a vocês...
Oro para que sejam felizes e que tenham, a seu modo, experiências com o meu melhor amigo...

Franci

sábado, 9 de janeiro de 2010

Apocalipse Now

Gravado originalmente pelo grupo Katsbarnea em 1989. "Katsbarnea também datilografado "Katsbarnéa", e abreviado de KATS. é uma banda brasileira de rock cristão, blues, e psícodélismo. A banda surgiu em São Paulo em Janeiro de 1988, em meio à efervescência do rock de protesto no Brasil. Suas letras e estética musical romperam com a estrutura até então vigente no cenário cristão, trazendo à tona temas como uso de drogas, desequilíbrio ecológico, abuso do álcool, violência e desigualdade econômica. época prolífera para bandas de Rock, mas nem tanto para o Rock Cristão." fonte: Wikipédia
Sendo depois regravado pelo Resgate...


Compositor(es): Estevam Hernandes e B.Simion



Um dia sentado meditando
Procurando respostas
Pra essa grande piração
Morte, guerra, destruição
AIDS, câncer, solidão
Seu eu fosse você não iria dormir tão cedo
Porque eu não sei se você vai
Acordar no horário marcado

Dois numa cama, um será levado
No céu haverá aviões desgovernados
E pilotos também arrebatados
Na terra grande confusão
O que será que a todos engoliu?
O padeiro, a secretária, o motorista, o jornalista
O executivo e as crianças sumiram, sumiram

Na esquina do pecado o assunto então mudou
Todos confusos se perguntam
Onde estão os caretas malucos
Que contavam uma nova história
Que contavam uma nova história
Dizendo que o Filho do Homem viria para levá-los
A um outro lugar

No ouvido um grande alarido
Sinto a orquestra celestial
As trombetas fortes soaram
A ordem da volta foi selada
Os cavaleiros do apocalipse
Preparam sua montaria
A grande batalha, sinto, vai começar
A hora do mal a gente ve acabar
O fim está chegando e a mensagem foi passada
Olhe os sinais, pense que a chance foi lhe dada
Levante a mão e no fim comece o início
De uma nova vida



sábado, 2 de janeiro de 2010

Cristianismo Celta

Carlos Caldas

(...) O cristianismo conhecido como “celta” floresceu na Irlanda, na Escócia, no País de Gales e mesmo em partes da Inglaterra, grosso modo, do quarto ao décimo séculos. São conhecidos os nomes de missionários celtas como Patrício, Columba e Columbano, que evangelizaram o norte das Ilhas Britânicas e vastas partes do continente europeu. Mas o cristianismo celta floresceu, humanamente falando, não apenas devido ao trabalho dos missionários mais conhecidos, mas também devido ao esforço de incontáveis anônimos, pessoas sinceras em sua fé, que viviam o cristianismo com “alegria e singeleza de coração”. Foi um cristianismo que desenvolveu características próprias, que o tornavam distinto do cristianismo de inspiração romana que florescia na Europa continental no mesmo período. O cristianismo celta tinha muitas características notáveis. Entre tantas, destaca-se aqui apenas a que interessa diretamente aos propósitos desta breve reflexão: um modelo de espiritualidade centrado na criação.

Os celtas desenvolveram uma teologia que enfatizava uma visão de Deus como Senhor da criação. Ainda que não haja nada de original nesta perspectiva — os cristãos celtas não foram os inventores desta teologia —, não se pode deixar de mencionar que há diversas implicações práticas dessa visão. Uma dessas conseqüências é exatamente ter uma atitude constante de júbilo e regozijo na criação, que revela Deus. Como os celtas eram um povo com forte inclinação à poesia, produziram muitas poesias comoventes, louvando a Deus pela obra da criação. Um poema datado do século nono, escrito na antiga língua do País de Gales, tem início com as seguintes palavras:

Todo Poderoso Criador, que fizeste todas as coisas;

O mundo não pode expressar toda a tua glória,

Ainda que a grama e as árvores possam cantar.

Outro poema escrito no século oitavo, na antiga língua irlandesa, declara:

Somente um tolo não seria capaz de louvar a Deus pelo seu poder,

Quando as pequeninas aves incapazes de pensar

O louvam com seu vôo.1

Estes versos expressam o lugar de destaque que a natureza ocupava na maneira como os cristãos celtas antigos viam a vida e pensavam sua relação com Deus. A visão da criação como reveladora de Deus está profundamente enraizada na Bíblia. Os fragmentos poéticos citados revelam influência de textos bíblicos como Salmos 98.7-8 ou Isaías 55.12. De fato, muito da poesia e das orações daqueles cristãos denotam influência da visão bíblica a respeito da natureza. Textos como o de Salmos 19.1eram particularmente queridos pelos cristãos celtas. Para eles, o mundo criado é uma teofania, isto é, uma manifestação de Deus. Nesse sentido, deve-se observar que os celtas contrastavam com os cristãos do mesmo período na Europa continental — enquanto estes tinham sua vivência de espiritualidade na escuridão de seus conventos, aqueles viviam uma espiritualidade ao ar livre, em meio à natureza. Não se importavam com o frio tão característico das Ilhas Britânicas! Antes, regozijavam-se no Senhor pelo cenário de deslumbrantes belezas naturais daquelas ilhas. No continente europeu prevaleceu uma visão influenciada pela antiga filosofia platônica, que via as coisas materiais como sendo inferiores às espirituais — nada mais distante do pensamento celta! Aliás, nada mais distante do pensamento bíblico!

Outro aspecto admirável da teologia desenvolvida pelos cristãos celtas é a sua concepção da soteriologia, isto é, da doutrina da salvação. Eles criam firmemente em Jesus Cristo, o Filho de Deus, que morreu na cruz para a salvação e libertação de todo aquele que crer. A cruz celta, que era esculpida em pedra, tornou-se uma figura conhecida em praticamente todo o mundo. As características básicas da cruz celta são: ter o braço horizontal tão largo quanto a sua base vertical, e ser circundada por um círculo, que provavelmente representa uma visão unificada das obras da criação e da redenção. Há também o aspecto de que tanto o poste como a trave da cruz celta são marcados por figuras esculpidas. Em muitas dessas cruzes há representações de animais. Desse modo, aqueles cristãos representavam esteticamente sua leitura de Romanos 8.19-23, que afirma a globalidade da obra de Cristo Jesus na cruz. Tal obra tem efeitos salvíficos para o povo de Deus e para o restante da obra das mãos de Deus, suas criaturas não-humanas. Os cristãos celtas demonstravam, dessa maneira, uma sofisticada teologia, holística em sua maneira de encarar a criação e a redenção. Assim, o cristão celta da Idade Média ficaria horrorizado se pudesse viajar no tempo e ver a destruição desenfreada da natureza que acontece em nosso tempo.

Há relatos documentais impressionantes de antigos santos celtas que tinham um relacionamento todo especial com os animais, criaturas não-humanas de Deus. Talvez alguns desses relatos sejam exagerados, mas mesmo assim deixam claro que eles levavam a sério, no sentido literal, a expressão “não fazer mal a uma mosca”. Columbano, por exemplo, chegou a afirmar: “Entenda a criação se desejas conhecer o Criador... pois aqueles que desejam conhecer as grandes profundidades precisam primeiro perceber o mundo natural”. Ian Bradley, professor de teologia prática e história da Igreja na Faculdade de Teologia da Universidade de Saint Andrews, na Escócia, afirma que esses relatos demonstram que os celtas se relacionavam com os animais no mesmo estilo de Jesus. Marcos afirma que Jesus estava com animais selvagens no deserto, mas eles não o feriam (não há como ler Marcos 1.13 e não se lembrar de passagens como Gênesis 2 ou Isaías 11.6-8). Neste sentido, o cristianismo celta antecipa em séculos uma ênfase que só viria ser encontrada em Francisco de Assis, tido em nossos dias como “patrono” do movimento ecológico. Bradley afirma também que há comprovação de que Francisco visitou uma comunidade monástica em Bobbio, na Itália. Essa comunidade (assim como outras nas vizinhanças de Assis) fora fundada pelo próprio Columbano. Bradley defende a teoria de que, nesses mosteiros de origem irlandesa, Francisco aprendeu o amor à natureza, que o tornou tão conhecido.

Portanto, dos cristãos celtas medievais podemos aprender a ver a natureza com espírito de alegria, gratidão e louvor a Deus. Aprendemos com eles a ter uma espiritualidade que não é descolada nem deslocada da criação.

“Voltar ao passado é progredir”; no que diz respeito à prática da espiritualidade centrada na criação, este provérbio é absolutamente verdadeiro e necessário para o nosso tempo.



Nota

1. Os versos citados e as referências a Bradley foram extraídos do livro The Celtic Way, de Ian Bradley (London: Darton, Longman & Todd, 2003).



Carlos Caldas é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil. Leciona na Escola Superior de Teologia e no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo.

Fonte: Revista Ultimato / Jubileu da Terra - Espiritualidade

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Ouça bem, escute bem!

Hoje assistindo ao Chaves ouvi uma música da turma do chaves que eu não me lembrava mais...



"Ouça bem, Escute bem
Pois ele quer amigos
Ouça bem, escute bem
Pois ele quer você
Ouça amigo
Ouça bem o que lhe digo
A felicidade é ter Jesus
Um companheiro que será sempre sincero
Não há quem seja como Jesus
Ouça bem, Escute bem
Pois ele quer amigos
Ouça bem, escute bem
Pois ele quer você
Ouça bem, Escute bem
Pois ele quer amigos
Ouça bem, escute bem
Pois ele quer você
Triste de verdade
É perder uma amizade
Mas sabe na tristeza
Chame Jesus
Porque ele não deixa
Sem resposta qualquer queixa
Não há quem seja como Jesus
Ouça bem, Escute bem
Pois ele quer amigos
Ouça bem, escute bem
Pois ele quer você
Ouça bem, Escute bem
Pois ele quer amigos
Ouça bem,, escute bem
Pois ele quer você
Lá, lá ,lá lá lá lá lá lá lá..."

Turma do Chaves